um braço pelos m eus om bros e m e puxou para ele. Eu sabia que era disso que
m eu pai precisava. Ou, talvez, que nós dois precisávam os. Apenas um tem pinho
j untos para que a casa não parecesse tão vazia. Quer dizer, eu am ava o silêncio,
m as um a dose m uito grande dele pode enlouquecer depois de um tem po.
— O que você acha de assistirm os a alguns episódios?
Sorri.
— Acho ótim o, pai.
Mais ou m enos na m etade do prim eiro episódio, m e dei conta de um a coisa
esquisita. Tudo bem , então, quando eu era criança, tinha um a paixonite por Alex
P. Keaton (o personagem super-republicano de Michael J. Fox em Caras &
Caretas), m as, doze anos depois, estava apaixonada por Toby Tucker, da
Juventude Dem ocrata. Eu tenho um a queda por políticos ou o quê? Talvez eu
estivesse, tipo, destinada a ser a esposa de um senador... ou talvez acabasse sendo
a prim eira-dam a.
Ah, não, não. Políticos não se casam com garotas Duff. Elas não ficam bem
na plateia dos debates. E, de qualquer m aneira, eu não era do tipo que se casava.
Tinha m ais chance de ser a Monica Lewinsky do futuro. Só precisava m e
lem brar de, bem , queim ar os vestidos incrim inadores.
Ei, Obam a até que era sexy para um cara velho. Talvez eu tivesse um a
chance.
Mordi o lábio quando papai riu de um a das piadas da série. Com o explicar
que até m esm o Caras & Caretas m e fazia lem brar daquela palavra?
Duff.
Deus, Wesley e aquela palavra m aldita não m e deixavam em paz. A palavra
estava m e provocando, até em m inha própria casa. Cheguei m ais perto de papai,
tentando m e concentrar no episódio. No nosso tem po j untos. Em qualquer coisa,
m enos em Wesley e naquele rótulo estúpido. Tentei esquecer daquele m aldito
beij o e de com o eu tinha sido idiota.
Tentei, tentei, tentei.
E, claro, falhei m iseravelm ente.
capítulo 5
Quando eu estava no j ardim de infância, tive um a experiência traum ática no
trepa-trepa. Estava no m eio do brinquedo, pendurada, quando m inhas m ãos
ficaram suadas e escorreguei. Caí pelo que pareceu ser um quilôm etro até atingir
o chão, encolhida. Todas as outras crianças de cinco anos riram de m im e do
m eu j oelho arranhado e sangrando. Todas, m enos um a.
Casey Blithe saiu do grupo de coleguinhas que m e observavam e parou na
m inha frente. Mesm o naquela época, percebi que ela era linda. Cachos loiros,
olhos cor de avelã, bochechas rosadas… O m áxim o da perfeição aos cinco anos
de idade. Ela podia ser m odelo de desfiles infantis.
— Você está bem ? — perguntou.
— Estou — falei, entre lágrim as abundantes e quentes. Não tinha certeza se
estava chorando por causa da dor no j oelho ou pelo j eito com o todos os m eus
colegas riam de m im .
— Não, não está. Você está sangrando. Deixa que eu aj udo você. — Ela
estendeu a m ão e m e puxou. Em seguida, voltou-se e brigou com as crianças que
estavam rindo de m im .
Depois disso, Casey basicam ente designou-se m inha protetora pessoal,
nunca m e deixando fora da sua vista, determ inada a m e m anter longe de
confusões. Daquele m om ento em diante, viram os m elhores am igas.
Claro que isso foi antes da questão da popularidade e da história das Duffs.
Ela acabou ficando alta (quase 1,80 — a garota era enorm e!), m agra e
deslum brante. Eu fiquei… bem , o oposto. Vendo-nos separadas, ninguém
im aginaria que éram os próxim as. Ninguém adivinharia que a bela Rainha do
Baile da escola era am iga da garota gorducha de cabelo cor-de-burro-quando-
foge ali no canto.
Mas éram os m elhores am igas. Casey ficou ao m eu lado em todos os
m om entos. Não m e abandonou nem no com eço do ensino m édio, depois que
m eu coração foi partido pela prim eira — e, se eu pudesse escolher, última —
vez. Ela nunca m e deixou ficar isolada ou afundar na m inha própria tristeza.
Apesar de poder facilm ente ter am igas m ais bonitas, m ais descoladas, m ais
populares, ela perm aneceu com igo.
Então, quando Casey m e pediu para lhe dar carona depois do treino de líder
de torcida, na quarta-feira à tarde, concordei. Quero dizer, depois de tudo o que
ela havia feito por m im nos últim os doze anos, o m ínim o que eu podia fazer era
lhe dar um a carona de vez em quando.
Esperei no refeitório da escola, olhando fixam ente para as paredes cor de
laranj a e azul (o cara que escolheu as cores da nossa escola devia estar m uito
chapado), tentando acabar m eu dever de cálculo. Estava voltando àquela
pergunta tão velha quanto o tem po — quando é que vou usar isso na vida real? —
quando senti a m ão de alguém no m eu om bro. Eu m e arrepiei, sabendo
exatam ente quem estava atrás de m im .
Ótim o. Realm ente ótim o.
Desvencilhei-m e da m ão de Wesley e m e virei para encará-lo, agarrando
m eu lápis com o um dardo e apontando-o para seu pom o de adão.
Ele nem sequer piscou. Seus olhos cinzentos exam inaram o lápis com um a
curiosidade fingida, e ele disse:
— Interessante. É assim que você recebe todos os caras de quem gosta?
— Eu não gosto de você.
— Isso quer dizer que você m e am a, então?
Eu detestava o j eito tranquilo e confiante com o ele falava. Muitas garotas
achavam aquilo sexy, m as na verdade era só m eio esquisito. Tudo nele parecia
dizer abuso! para m im . Eca.
— Quer dizer que eu odeio você! — exclam ei bruscam ente. — E se você
não ficar longe de m im , seu palhaço, vou denunciá-lo por assédio.
— Pode ser difícil provar isso — disse Wesley. Ele tirou o lápis da m inha
m ão e com eçou a girá-lo entre os dedos. — Especialm ente considerando que foi
você que m e beij ou. Tecnicam ente, eu poderia denunciar você por assédio.
Cerrei os dentes: ainda detestava até pensar nisso, e não quis nem lem brá-lo
de que ele tinha participado do beij o com entusiasm o.
— Devolva m eu lápis! — resm unguei.
— Não sei — disse ele. — Com você, isso poderia ser classificado com o
um a arm a perigosa… j unto com copos de Coca Light. Um a escolha interessante,
aliás. Eu sem pre pensei em você com o um a garota do tipo Sprite. Sabe… sem
graça.
Eu só o encarei, torcendo para que ele entrasse em com bustão espontânea
antes de pegar m eus livros e cadernos sobre a m esa. Wesley evitou m inha
tentativa de pisar no seu pé e ficou m e observando enquanto eu m archava pelo
corredor. Estava na m etade do cam inho para o ginásio, onde Casey, que era a
capitã das líderes de torcida, devia estar encerrando o treino, quando ele m e
alcançou.
— Ah, espere aí, Duff. Era só um a brincadeira. Calm a.
— Não teve graça.
— Seu senso de hum or está precisando de exercício, então — sugeriu
Wesley. — A m aioria das garotas acha m inhas brincadeiras charm osas.
— Essas garotas devem ter um QI tão baixo que precisam tom ar cuidado
pra não tropeçar nele.
Ele riu.
Aparentem ente, a engraçada era eu.
— Ei, você n
unca m e contou por que estava chateada naquela noite — disse
ele. — Estava ocupada dem ais enfiando a língua na m inha garganta. Então, qual
era o problem a?
— Não é da sua… — com ecei, e parei de repente. — Ei! Eu não… não teve
língua! — Um arrepio de raiva percorreu-m e quando reparei no sorriso
m alicioso dele. — Seu filho da m ãe! Sai daqui! Céus, você está m e perseguindo?
Pensei que Wesley Rush não corria atrás de garotas. Pensei que elas é que o
perseguiam , certo?
— Você está certa. Wesley Rush não corre atrás de garotas, e eu não estou
correndo atrás de você — disse ele. — Estou aqui esperando m inha irm ã. Ela
está fazendo um teste para o sr. Rollins. Apenas vi você no refeitório e pensei…
— O quê? Que ia m e torturar um pouco m ais? — apertei os punhos. — Me
deixe em paz, droga! Você j á m e deixou arrasada.
— Com o foi que fiz isso? — perguntou ele, parecendo um pouco surpreso.
Não respondi. Não queria lhe dar a satisfação de saber que a palavra Duff
estava m e infernizando por causa dele. Ele ficaria feliz com essa inform ação.
Em vez disso, corri na direção das portas do ginásio o m ais rápido que pude.
Dessa vez ele não m e seguiu — graças a Deus. Corri para dentro do ginásio azul
e laranj a (Ah, m eu Deus. Cores brilhantes… j á conseguia sentir a dor de cabeça
chegando…) e sentei-m e no banco m ais próxim o.
— Ótim o treino, garotas! — gritou Casey, do outro lado do ginásio. — Certo,
o próxim o j ogo de basquete é na sexta-feira. Quero que todas treinem a
coreografia, e Vikki, trabalhe nesses pontapés altos. Certo?
Um m urm úrio geral de concordância percorreu o Esquadrão das
Magrinhas.
— Perfeito — disse Casey. — Vej o vocês depois, m eninas. Vam os lá,
Panthers!
— Vam os lá, Panthers! — ecoaram as outras líderes de torcida enquanto se
dispersavam . A m aioria das garotas correu para o vestiário, m as algum as se
encam inharam para as portas, conversando, excitadas, com as am igas.
Casey veio até m im .
— Oi, B — disse ela. — Desculpe, a gente foi um pouco além do horário. Se
im porta se eu m e trocar antes de irm os em bora? Estou m e sentindo m eio
fedorenta.
— Não m e im porto — m urm urei.
— O que há de errado? — perguntou ela, instantaneam ente desconfiada.
— Nada, Casey. Vai trocar de roupa.
— Bianca, estou vendo…
— Não quero falar sobre isso. — Não ia entrar em outra discussão sobre
Wesley com ela. Casey provavelm ente acabaria defendendo-o com o da últim a
vez. — Estou bem , certo? — disse, suavizando a voz. — Dia longo. Dor de
cabeça.
Casey ainda parecia cética enquanto cam inhava, com m uito m enos
anim ação, na direção do vestiário.
Fantástico. Eu m e sentia um a m onstra perversa. Casey apenas queria ter
certeza de que eu estava bem , e eu dei um esporro nela. Não deveria ter
descarregado m inha raiva de Wesley em cim a da Casey, m esm o sabendo que
ela realm ente acreditava que ele era a droga de um príncipe.
Mas, quando ela saiu do vestiário de agasalho de capuz e j eans, sua
anim ação habitual tinha voltado. Jogou a bolsa sobre o om bro e veio até onde eu
estava sentada, com um sorriso suave e im aculado.
— Algum as vezes não dá pra acreditar nas besteiras que escuto no vestiário
— disse. — Está pronta pra ir, B?
— Claro. — Peguei m eus livros e com ecei a andar em direção à porta do
ginásio, torcendo para que Wesley não estivesse m ais rondando pelo corredor.
Casey devia ter notado m inha ansiedade. Percebi a expressão tensa e
preocupada no seu rosto, m as ela não puxou o assunto de novo. Em vez disso,
contou:
— Então, bem , Vikki vai mesmo ser conhecida na escola com o um a vadia.
— Ela j á é.
— Bom , é verdade — adm itiu Casey —, m as vai piorar. Ela está saindo com
aquele j ogador de futebol… sabe, aquele fulano… Mas ela disse a um cara da
escola Oak Hill que vai levá-lo para o Baile de Boas-Vindas da equipe de
basquete. Não sei por que Vikki faz isso consigo m esm a. Você, Jess e eu vam os
nos sentar nos m elhores lugares para assistir à tragédia, quando tudo vier à tona
nessa noite. Aliás, o que vai usar no baile?
— Nada.
— Excitante, m as acho que não vão perm itir que entre nua, B. — Estávam os
andando pelo labirinto de m esas do refeitório, em direção ao estacionam ento.
— Não. Quer dizer, Jessica e eu não vam os ao Baile de Boas-Vindas —
falei.
— Claro que vão! — protestou Casey.
Balancei a cabeça.
— Jessica está de castigo. Prom eti a ela que ia pra lá e que vam os ver
film es água com açúcar.
Casey parecia atordoada. Em purram os a porta azul e chegam os ao
congelante estacionam ento dos alunos.
— O quê? Mas Jess adora o Baile de Boas-Vindas da equipe de basquete. É
seu preferido, depois do Baile de Form atura e do Baile de Boas-Vindas da equipe
de futebol.
Dei um sorrizinho, contra a vontade.
— E do Sadie Hawkins.
— Com o eu não soube disso? O baile está chegando. Por que vocês não m e
contaram ?
Dei de om bros.
— Desculpe. Nem pensei nisso. E acho que Jessica ainda está deprim ida.
Talvez ela não queira falar a respeito.
— Mas… agora com quem eu vou ao baile?
— Hum , com um cara — sugeri. — Casey, com o se fosse difícil pra você
arranj ar um par. — Pesquei a chave do carro no bolso traseiro da calça e
destranquei as portas do m eu Golf.
— Certo, quem diabos vai querer ir com o Pé-Grande aqui?
— Você não é Pé-Grande.
— Além disso — disse ela, ignorando-m e —, é m elhor ir com vocês. — Ela
subiu no assento do carona e enrolou-se na m anta que Jessica havia usado há
algum as noites. — Droga, B. Você realm ente precisa consertar a porcaria desse
aquecedor.
— Você realm ente precisa ter um carro próprio.
Ela m udou de assunto.
— Certo, vam os voltar para o baile. Se vocês duas não vão… será que se
im portam de eu ser penetra no festival de cinem a de vocês? Poderia ser um a
Noite de Pij am a das Garotas. Faz tem po que não fazem os um a dessas.
Apesar do m eu hum or de cão, sorri. Casey estava certa. Já fazia algum
tem po que não passávam os um a noite j untas vendo film es, e seria agradável
estar com elas sem os problem as com os garotos ou com techno nas alturas. Pelo
m enos um a vez, quem sabe m e divertiria em um a noite de sexta-feira. Então
aum entei o volum e do rádio e disse:
— Na sexta-feira da próxim a sem ana, está com binado.
capítulo 6
Quando a sexta-feira da nossa Noite de Pij am a das Garotas finalm ente chegou,
eu estava m ais do que pronta para um a noite tranquila e relaxante com m inhas
m elhores am igas… e para o lindam ente escocês Jam es McAvoy, claro. Tinha
enfiado na m ochila um dvd de Am or e inocência que ganhara de Jessica no
Nata
l, um pij am a quase intacto (é, eu durm o pelada em casa, qual é o
problem a?) e m inha escova de dente. Casey ia levar a pipoca, e Jessica tinha
prom etido dois potes im ensos de sorvete de baunilha e chocolate.
Com o se m eu traseiro j á não fosse grande o suficiente.
Mas, naturalm ente, o dia não podia ser totalm ente bom . A sra. Perkins,
m inha professora de inglês, garantiu isso durante a quarta aula.
— Então, esse é A letra escarlate — disse ela, fechando o livro. — Vocês
gostaram , turm a?
Houve um resm ungo baixo de negativa, m as a sra. Perkins não pareceu ter
percebido.
— Bom , j á que o trabalho de Hawthorne é tão extraordinário e aplicável à
sociedade contem porânea, quero que cada um de vocês escreva um a resenha
sobre o rom ance. — Ela ignorou os suspiros altos. — A resenha pode ser sobre
qualquer aspecto do livro: um personagem , um a cena, um tem a, m as quero que
sej a bem aprofundada. Vou tam bém perm itir que trabalhem em duplas… —
houve um burburinho de excitação na turm a — … que eu indicarei. — A
excitação evaporou-se.
Soube que teria problem as quando a sra. Perkins puxou a lista de cham ada.
Isso significava que ela organizaria as duplas por ordem alfabética de
sobrenom e, e com o não havia ninguém cuj o sobrenom e com eçasse com Q
nessa turm a, m eu parceiro seria, evidentem ente…
— Bianca Piper vai fazer dupla com Wesley Rush.
Droga.
Eu conseguira ficar longe de Wesley por um a sem ana e m eia — desde o dia
em que ele havia m e perseguido depois da aula —, m as a sra. Perkins precisava
estragar tudo.
Ela m atraqueou os últim os nom es da lista antes de dizer:
— Espero que as resenhas não tenham m enos de cinco páginas, e isso é em
fonte 12, com espaço duplo, Vikki. Não tente trapacear de novo. — Ela riu com
benevolência. — Agora, quero que os parceiros trabalhem em conj unto. Am bos
têm de contribuir para a resenha. E vam os ser criativos, pessoal! Divirtam -se!
— Im provável — sussurrei para Jessica, que se sentava na carteira ao m eu
lado.
— Ah, acho que você deu sorte, Bianca — disse ela. — Eu adoraria ter
Wesley com o parceiro. Mas m eu coração pertence a Harrison. É tão inj usto que
sej a a Casey que vai fazer o trabalho com ele. — Ela olhou para a cadeira de
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