Estou contente de saber que o filho dele é um garoto bacana tam bém .
— Ele é — falei.
O som de passos veio do alto da escada, e nós dois olham os para o teto.
— Ah… — Papai balançou a cabeça e olhou de volta para m im . — Eu
quase m e esqueci delas. Elas ficaram suspeitam ente quietas a noite toda.
— Sim — falei. — Acho que eu deveria subir antes de Casey ter um
aneurism a. Vej o você pela m anhã, pai.
— Certo — respondeu m eu pai. Ele alcançou o controle rem oto e aum entou
o volum e da televisão. — Boa noite, Abelhinha.
Dancei até m etade da escada antes de papai m e cham ar novam ente.
— Ei, Abelhinha?
Parei e m e inclinei contra o corrim ão, olhando para baixo, para a sala de
estar.
— Sim ?
— O que foi que aconteceu com o Wesley ?
Congelei, m e sentindo engasgar um pouquinho.
— O… o quê?
— Seu am igo. Aquele que, hã… estava com você naquela noite.
Ele olhou para m im do sofá, arrum ando seus óculos.
— Você não fala m uito sobre ele.
— Não saím os m ais j untos — falei, usando aquela voz que deixava claro
que ele não devia fazer perguntas. Todas as adolescentes conhecem aquela voz e
a usam com seus pais com frequência. Norm alm ente, a ordem não dita é
acatada. Meu pai m e am ava, m as ele sabia que era m elhor não analisar o dram a
da m inha experiência do ensino m édio.
Meu pai era esperto.
— Ah… eu só estava im aginando…
— Bianca! — A porta do m eu quarto se abriu, e Jessica, vestida com um
pij am a laranj a fluorescente, deu um pulo para fora. Ela correu até m etade do
cam inho escada abaixo e m e agarrou pelo braço. — Chega de nos fazer esperar!
Venha nos contar tudo.
A excitação de Jessica quase tirou a m enção de papai a Wesley da m inha
cabeça.
Quase.
— Boa noite, sr. Piper! — gritou Jessica enquanto m e arrastava para m eu
quarto.
Depois de alguns degraus, m eus pés retom aram a dança, e eu m e lem brei
que tinha acabado de ter o m elhor encontro de todos, com o cara dos m eus
sonhos. Me senti contagiada pela alegria inebriante que as m inhas m elhores
am igas expressaram assim que entrei no quarto. Dando gritinhos, pulando, m e
anim ando… Eu tinha o direito de m e sentir feliz com aquilo. Mesm o nós, os
cínicos, m erecem os um a noite de folga de vez em quando, certo?
capítulo 22
Meu bom hum or durou tanto tem po que chegou até a tarde de segunda-feira.
Quer dizer, o que havia no m undo para m e irritar? Nada. As coisas voltaram ao
norm al em casa. Minhas am igas não m e arrastavam para o Nest fazia sem anas.
Ah, sim , e eu tinha acabado de ter um encontro com o garoto perfeito. Quem
poderia reclam ar?
— Acho que nunca vi você tão assim — observou Casey quando saíam os do
estacionam ento dos alunos. A voz dela estava cheia de disposição, um efeito
colateral indesej ável da prática de anim ação de torcidas, e ela pulava para cim a
e para baixo em seu banco. — É tão anim ador!
— Nossa, Casey, você m e faz parecer um a suicida em potencial ou algo
assim .
— Não é isso! — disse ela. — É só que você não está tão am arga
ultim am ente quanto costum a ser. É um a m udança boa.
— Eu não sou am arga.
— Você é. — Ela esticou o braço e deu um tapinha no m eu j oelho. — Mas
tudo bem , B. É só um a parte da sua personalidade. Nós a aceitam os. Mas você
não está sendo am arga nos últim os tem pos, e isso é incrível. Não leve isso com o
um insulto.
— Que sej a. — E dei um sorriso.
— Viu? — gritou Casey. — Você deu um sorrisinho. Você não consegue
parar, né? Com o eu disse, você está m ais feliz do que j am ais vi.
— Certo, talvez você estej a um pouco certa — adm iti. Era m eio que
verdade. Eu tinha Casey e Jessica de volta. As coisas estavam norm ais com
papai. Por que reclam ar?
— Sem pre estou. — Ela se inclinou para a frente e m udou o rádio para
algum a porcaria de estação que tocava as Top 40.
— Então, o que há entre você e Toby? Algo que valha um a fofoca?
— Não realm ente. Ele vai lá em casa hoj e à tarde.
— Uuh! — Ela recostou no banco e piscou para m im . — Para m im , vale
um a fofoca. Você com prou preservativos extragrandes, certo?
— Cala a boca — falei. — Não é esse tipo de coisa, e você sabe disso. Ele só
vai passar lá em casa para trabalharm os em nossas redações dissertativas para a
aula de organização política avançada. É…
Fui interrom pida quando m eu celular, que estava no porta-copos, com eçou a
vibrar e tocar um a m úsica alta. Meus dedos de im ediato agarraram o volante.
Sabia para quem eu program ara aquele toque, e aqueles poucos tons foram
suficientes para destruir m inha tarde inteira.
— Britney Spears? Você tem Womanizer com o toque do seu celular, sério?
Meu Deus, B, essa m úsica é tão 2008 — riu Casey.
Não respondi.
— Você não vai atender?
— Não.
— Por que não?
— Porque não quero falar com ele.
— Com quem ?
Não respondi, então Casey apanhou m eu celular e conferiu o identificador
de cham adas. Ela deixou escapar um suspiro de quem entendeu tudo. Poucos
segundos depois, a m úsica parou de tocar, m as eu não consegui obrigar m eu
corpo a relaxar novam ente. Eu estava tensa e ansiosa, e não aj udava saber que
Casey tinha os olhos grudados em m im .
— Você não falou com ele?
— Não — m urm urei.
— Desde o dia em que eu peguei você na casa dele?
— A-hã.
— Ah, B… — suspirou ela.
O carro ficou quieto — bem , exceto pelo som irritante de um a cantora pop
pouco talentosa no rádio, m as ela estava m uito ocupada reclam ando de seu
nam orado traidor para se im portar com m eus problem as.
— O que você acha que ele quer? — perguntou Casey, quando a m úsica
acabou. Ela parecia um pouco am arga.
— Conhecendo Wesley … provavelm ente está ligando porque está a fim de
uns am assos — resm unguei. — Nunca é nada além disso.
— Bem , então foi bom que você não tenha atendido. — Ela devolveu m eu
celular ao porta-copos e cruzou os braços sobre o peito. — Porque ele não
m erece você, B. E você está com Toby agora, e ele é perfeito e a trata da
m aneira com o deveria ser tratada… ao contrário do babaca.
Parte de m im queria fazê-la parar. Queria defender Wesley. Ele não tinha
de fato m e tratado m al. Quer dizer, sim , ele tinha incessantem ente m e cham ado
de Duff, o que havia sido irritante e doloroso, m as, acim a de tudo, Wesley tinha
sido bom para m im .
Mas não contei isso a Casey. Não disse nada. Ela não sabia com o havia sido
aquela últim a noite com Wesley, com o ele tinha sido m eu am igo por m ais ou
m enos doze horas seguidas. Ela não sabia sobre a recaída de m eu pai ou a
m aneira com o Wesley m e apoiara. Aq
uelas eram coisas que eu nunca poderia
lhe contar.
Ela estava irritada com Wesley apenas porque estava assustada. Assustada
que eu corresse de volta para ele e esquecesse dela e de Jessica novam ente.
Defender Wesley não aj udaria a dim inuir aquele tem or.
Toby tinha passado de nerd para herói na m ente de Casey em um a questão
de dias, sim plesm ente porque não havia m e tirado dela. Eu não ia passar todas as
tardes com ele com o passei com Wesley. Não queria, realm ente. Algum as vezes
aquilo m e assustava, m as entendi que era norm al. Era um a relação saudável e
não escapista, ao contrário da que eu tive com Wesley. E, naquele m om ento,
estava realm ente feliz por passar algum tem po com m inhas am igas.
Em biquei o carro na casa de Casey e apertei a trava autom ática da m inha
porta.
— Não se preocupe com igo. Você está certa. Toby é incrível e ele fez com
que fosse m ais fácil seguir em frente. Já segui em frente. As coisas estão indo
bem pra m im , então não se preocupe.
— Certo — disse ela. — O.k. Bem , vej o você am anhã, B.
— Tchau.
Casey saiu do carro e eu fui em bora, pensando por que tinha acabado de
m entir para ela. Honestam ente, não tinha certeza.
No cam inho de casa, Wesley ligou de novo.
Eu o ignorei.
Porque as coisas estavam indo bem para m im .
Porque eu estava seguindo em frente.
Porque falar em um celular e dirigir ao m esm o tem po não é seguro.
Tirei Wesley da m inha cabeça quando vi o carro de Toby estacionado na
frente da m inha casa. Papai ainda não havia chegado do trabalho, então Toby
estava sentado nos degraus da varanda da frente com um livro. A arm ação dos
óculos dele, refletindo o sol, parecia brilhar. Era com o se Toby fosse um troféu.
Desci do carro e m e apressei pelo cam inho até ele.
— Ei! — cham ei. — Foi m al. Precisei levar Casey em casa.
Ele olhou para m im com um sorriso.
Não um sorrisinho enviesado…
Precisei m e dar um a sacudidela m ental. Não ia pensar em Wesley. Não ia
m e perm itir sentir falta dele. Não quando eu tinha Toby. O doce, o norm al, o
Toby do sorriso brilhante.
— Tudo bem — disse ele. — Estou aproveitando o tem po. É tão im previsível
na prim avera... — Ele enfiou o m arcador nas páginas do seu rom ance. — É bom
tom ar um pouquinho de sol.
— Brontë? — perguntei, vendo a capa do livro. — O morro dos ventos
uivantes? Não é m eio fem inino, Toby ?
— Você leu?
— Bem , não — adm iti. — Li Jane Eyre, que definitivam ente estava cheio
das prim eiras m anifestações do fem inism o. Não estou dizendo que é um
problem a. Eu m esm a sou totalm ente fem inista, m as é um pouco incom um ver
um m enino lendo isso.
Toby balançou a cabeça.
— Jane Eyre é de Charlotte Brontë. O morro dos ventos uivantes é de Em ily.
As irm ãs são m uito, m uito diferentes. Sim , O morro dos ventos uivantes é
norm alm ente considerado um a história de am or, m as não concordo com isso. É
quase um a história de suspense, e há m ais ódio do que rom ance. Os personagens
são cruéis, m im ados e egoístas… É m eio com o assistir a um episódio de Gossip
Girl no século XVIII. Exceto, é claro, que é bem m enos ridículo.
— Interessante — m urm urei, desapontada porque eu assistia secreta e
regularm ente a Gossip Girl.
— Não é um dos favoritos da m aioria dos garotos da m inha idade, acho —
disse ele. — Mas é um divisor de águas. Você devia lê-lo.
— Eu poderia.
— Você devia.
Sorri e balancei a cabeça.
— Você está pronto para entrar ou o quê?
— Com certeza. — Ele bateu o livro ao fechá-lo e ficou de pé.
— Você prim eiro.
Destranquei a porta e deixei que Toby entrasse na m inha frente, e ele
im ediatam ente tirou os sapatos. Não que vivêssem os com o porcos ou algo assim ,
m as nunca ninguém fez isso em nossa casa. Eu não pude deixar de ficar
im pressionada.
— Onde vam os trabalhar? — perguntou ele.
Percebi subitam ente que eu o estava encarando e desviei o olhar.
— Ah — falei casualm ente. — Hum … no m eu quarto? Tudo bem ? — Meu
Deus, espero que ele não pense que sou uma louca perseguidora por ficar olhando
para ele dessa maneira.
— Se não incom odar você — disse Toby.
— Não, tudo bem . Venha.
Ele m e seguiu escada acim a. Quando chegam os ao m eu quarto, abri um a
fresta da porta, conferindo rapidam ente se havia itens em baraçosos (sutiãs,
calcinhas etc.) j ogados no chão. Claro que a barra estava lim pa — e, rezando
para que eu não tivesse sido m uito óbvia, abri bem a porta e fiz um gesto para
Toby entrar.
— Desculpe por estar um pouco bagunçado — falei, olhando para a pilha de
roupas lim pas m as não dobradas que sem pre ficavam no chão, aos pés da m inha
cam a, e tentando não pensar na últim a vez em que tive um garoto em m eu
quarto e em com o ele tinha rido da m inha arrum ação neurótica de roupas.
O que Toby pensaria daquilo?
— Tudo bem . — Toby m oveu um a pilha de livros vencidos da biblioteca da
m inha cadeira e a colocou sobre a m esa. Depois ele se sentou. — Tem os
dezessete anos. Supostam ente nossos quartos devem ser bagunçados. Não seria
natural se eles não fossem .
— Acho que não. — Subi na m inha cam a e m e sentei com as pernas
cruzadas. — Só não queria que isso incom odasse você.
— Nada a seu respeito m e incom oda, Bianca.
Usei todas as m inhas forças para ignorar o quanto aquilo pareceu piegas.
Sorri, de qualquer form a, e baixei os olhos para o m eu edredom roxo.
Nunca tinha recebido tantos elogios de um a única pessoa e não era m uito boa em
aceitá-los. Em grande parte, porque eu sem pre estive ocupada dem ais fazendo
piada de com o pareciam sentim entais. Mas eu estava trabalhando naquilo.
E, verdade sej a dita, estava m eio que enrubescida.
Eu nem m esm o percebi que Toby tinha se m exido até que ele se sentou ao
m eu lado.
— Desculpa — disse ele. — Eu deixei você envergonhada?
— Não… bem , sim , m as de um j eito bom .
— Contanto que sej a de um j eito bom .
Ele se inclinou e m e beij ou no rosto, m as eu não deixei que ele parasse.
Virei a cabeça e com prim i os lábios contra os dele, bem quando Toby com eçava
a se afastar. Não foi tão suave quanto esperei. Quero dizer, os óculos dele m eio
que m e nocautearam no rosto por um segundo, m as fingi que não tinha
percebido.
Seus lábios eram tão m acios que fiquei im aginando se ele usava brilho
labial. Sério, ninguém tem lábios tão perfeitos naturalm ente, certo? Ele deve ter
ficado com noj o dos m eus, que provavelm ente lhe deram a sensação de estarem
ásperos e escam osos.
Mas, se ele ficou com asco, não dem onstrou. Sua m ão acariciou m eu braço
e pousou em m eu om bro, m e puxando um pouquinho m ais para perto. Ficam os
sentados ali na m inha cam a e nos beij am os po
r alguns m inutos, porém o som do
m eu celular interrom peu o m om ento. Merda!
E, é claro, era o m esm o toque da Britney Spears — o único que eu não
queria ouvir naquele exato m om ento — que parecia gritar com igo. Toby se
afastou e olhou para o chão, onde eu tinha deixado m inha bolsa. Quando não m e
m exi, ele se virou para m im com as sobrancelhas erguidas.
— Ignorando alguém ? — perguntou ele.
— Aham .
— Tem certeza de que não precisa atender?
— Tenho, sim .
Antes de ele perguntar m ais algum a coisa, eu o beij ei novam ente. Com
força dessa vez. E, em bora tenha hesitado por um instante, ele correspondeu. Eu
m e atrapalhei para tirar seus óculos e os coloquei sobre a m esa de cabeceira ao
lado da m inha cam a antes de nossos braços se entrelaçarem , e o beij o foi se
aprofundando.
Eu o puxei sobre m eus travesseiros. Não havia espaço suficiente para nós
dois em m inha cam a de solteiro, então ele teve de deitar parcialm ente sobre
m im . Um a de suas m ãos estava no m eu cabelo, e a outra descansava perto do
m eu cotovelo.
Ele não estava tentando agarrar m eu peito, não deslizou a m ão por dentro da
m inha cam iseta, tam pouco tentou abrir m eu j eans.
Na verdade, Toby não tentou nada arriscado. Tive a sensação de que eu ia
precisar fazer todos os grandes lances, com o abrir os botões da cam isa dele, o
que eu fiz.
Por um instante, m e perguntei se ele estava hesitante por m inha causa.
Porque eu era um a Duff. Porque ele não m e achava realm ente atraente. A
despeito de todos os elogios que m e fez, não parecia que ele m e queria. Não do
j eito que Wesley quis.
Não. Eu sabia que aquilo não estava certo. Não era que Toby não quisesse as
grandes coisas — ele era um adolescente, afinal de contas —, m as era um
cavalheiro. Um garoto paciente e respeitoso que não queria extrapolar nenhum
lim ite. E nós só estávam os nam orando havia alguns dias.
Aquilo fazia de m im um a vadia? O fato de que nós só estávam os nam orando
há, tipo, quatro dias e eu j á estava rolando com ele em m inha cam a m inúscula?
Será que m eu caso com Wesley tinha distorcido totalm ente m inha percepção
sobre o sexo?
Ou todas as garotas faziam assim ?
Vikki tinha dorm ido com a m aioria de seus nam orados no prim eiro encontro.
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