Duff
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sim plesm ente m e deixar em paz. Sem m encionar que m inha pele ainda
form igava nos pontos onde ele tinha m e tocado.
A turm a de organização política avançada do sr. Chaucer tinha apenas nove
alunos, e sete deles j á estavam na classe no m om ento em que entrei pela porta.
O professor m e olhou feio através dos olhos sem icerrados, para deixar claro que
o sinal soaria a qualquer m om ento. Estar atrasado era um delito grave na opinião
do sr. Chaucer, e estar quase atrasado tam bém era, ainda que m enor. Mas não fui
a últim a a aparecer, o que aj udou um pouco.
Ocupei m eu lugar no fundo da sala e abri o caderno, pedindo a Deus que o
sr. Chaucer não m e desse um a bronca enorm e pelo m eu quase atraso. Do j eito
que estava nervosa, eram grandes as chances de que eu o xingasse. Mas ele não
gritou com igo, o que poupou um bocado de dram a.
O últim o aluno da turm a entrou exatam ente no m esm o instante em que o
sinal soou.
— Desculpe, sr. Chaucer. Eu estava pregando os cartazes da cerim ônia de
inauguração da próxim a sem ana. O senhor ainda não com eçou a aula, com eçou?
Meu coração pulou quando ergui os olhos e vi o garoto que tinha acabado de
entrar.
Tudo bem , não é segredo algum que odeio os adolescentes que nam oram no
ensino m édio e vivem em estado delirante, falando sem parar sobre o quanto
am am seus nam orados ou suas nam oradas. Adm ito honestam ente que odeio as
garotas que dizem que am am alguém antes m esm o do prim eiro encontro. Não
escondo m inha opinião: o am or leva anos — cinco ou dez, no m ínim o — para se
desenvolver, e, para m im , relacionam entos do ensino m édio são totalm ente
idiotas. Todo m undo sabia que eu pensava assim … Mas o que ninguém sabia é
que eu era quase um a hipócrita.
Bom , tudo bem , Casey e Jessica sabiam , m as elas não contavam .
Toby Tucker. Se deixássem os de lado a trágica aliteração, Toby era perfeito
em todos os sentidos. Não era um j ogador de futebol im erso em testosterona.
Não era um hippie-m eigo-tocador-de-violão. Não escrevia poesia, nem usava
lápis de olho. Claram ente Toby não poderia ser considerado um a beleza, m as isso
era um a vantagem para m im , certo? Os esportistas, m em bros de bandas e
garotos em o não olhavam duas vezes — com o Wesley tinha afirm ado com tanta
gentileza — para um a Duff. Era m ais provável que eu tivesse um a chance com
caras inteligentes, politicam ente ativos e, com o o Toby, de algum m odo
socialm ente inadequados. Certo?
Errado, errado, errado.
Toby Tucker era o cara perfeito para m im . Infelizm ente, ele desconhecia
esse fato. Isso se devia, em grande parte, à m inha incapacidade em form ar
frases coerentes cada vez que ele se aproxim ava. Eram grandes as chances de
Toby acreditar que eu era m uda ou algum a coisa do tipo. Ele j am ais m e olhou ou
falou com igo, nem sequer pareceu reconhecer m inha existência no fundo da sala
de aula. Para um a garota com um a bunda tão grande, eu m e sentia
com pletam ente invisível.
Mas eu percebi a presença de Toby. Notei seu antiquado, m as encantador,
cabelo loiro cortado no estilo tigela e sua pele pálida, cor de m arfim . Notei seus
olhos verdes escondidos sob as lentes de óculos ovais. Notei que ele usava um
casaco que com binava com tudo, e notei a form a com ovente com o m ordia o
lábio inferior enquanto pensava m uito em algum a coisa. Eu estava… bem , não
apaixonada, m as certam ente gostando dele. Eu estava gostando bastante de Toby
Tucker.
— Ah, tudo bem … — m urm urou o sr. Chaucer. — Trate de ficar de olho no
relógio am anhã, sr. Tucker.
— Pode deixar, senhor.
Toby se sentou na prim eira fila, ao lado de Jeanine McPhee. Com o um a
stalker, prestei atenção na conversa deles, enquanto o sr. Chaucer escrevia os
pontos principais da aula no quadro-negro. Não costum o m e com portar de form a
tão esquisita, m as bem … gostar de alguém leva as pessoas a fazer um as coisas
m alucas. Pelo m enos essa é a desculpa que se ouve por aí.
— Com o foi seu fim de sem ana, Toby ? — perguntou Jea- nine, que estava
sem pre com o nariz entupido. — Algum program a em ocionante?
— Foi bom — disse Toby. — Meu pai levou Nina e eu para fora do estado.
Fom os visitar a Universidade Southern Illinois. Foi bem divertido.
— Nina é a sua irm ã? — perguntou Jeanine.
— Não. É a m inha nam orada. Ela estuda na escola Oak Hill. Nunca falei
dela? Bom , fom os aceitos lá, então quisem os dar um a olhada. Estou visitando
outras universidades, m as estam os j untos há um ano e m eio e querem os ir para o
m esm o lugar para evitar o problem a do nam oro a distância.
— Que am or! — exclam ou Jeanine. — Eu, na verdade, estou pensando em
fazer apenas alguns cursos na FCOH antes de decidir para qual universidade ir.
Minha pele não estava m ais form igando, m as agora m eu estôm ago dava
cam balhotas idiotas. Pensei que ia vom itar, e precisei lutar contra o im pulso de
sair correndo da sala de aula com a m ão na boca. Por fim , acabei vencendo a
batalha para m anter o m eu café da m anhã no lugar devido, m as ainda m e sentia
péssim a.
Toby tinha um a nam orada? Já fazia um ano e m eio? Ai m eu Deus! Com o
nunca soube disso? E eles iam para a universidade juntos? Isso significava que ele
era um desses rom ânticos estúpidos e cafonas de quem eu vivia zom bando?
Esperava m uito m ais de Toby Tucker. Esperava que ele fosse tão cético quanto
eu sobre a natureza do am or adolescente. Esperava que encarasse a universidade
com o um a decisão m uito im portante, e não com o algum a coisa a ser escolhida
de com um acordo com o nam orado ou a nam orada. Esperava que ele fosse…
bem , esperto!
Mas de qualquer forma, ele jamais namoraria com você, sussurrou um a
vozinha dentro da m inha cabeça, aflitivam ente parecida com a voz de Wesley
Rush. Você é a Duff, lembra? A namorada dele é provavelmente mais magra do
que você e tem peitos grandes.
Ainda nem era a hora do alm oço, e eu j á queria pular de um precipício. Ah,
tá, tudo bem , sou m eio que chegada a um dram a. Mas, definitivam ente, queria
voltar para casa e ir para a cam a. Queria esquecer que Toby tinha nam orada.
Queria lim par a sensação das m ãos de Wesley em m inha pele. Mas queria, m ais
do que tudo, apagar a palavra Duff da m inha m ente.
Ah, sim , e as coisas conseguiram piorar nesse dia.
Lá pelas seis da tarde, o cara do telej ornal com eçou a falar de um a
tem pestade de neve que aconteceria “no com eço da m anhã”. Acho que o
Conselho Escolar teve pena de nós, j á que não tínham os enfrentado nenhum dia
de neve até então, porque suspendeu as aulas do dia seguinte antes m esm o de a
tem pestade chegar. Por isso, Casey m e ligou às sete e m eia da noite e insistiu
para irm os ao Nest, j á que não teríam os de levantar cedo no dia seguinte.
— Não sei, não, Casey — falei. — E se as ruas estiverem ruins? — Eu
adm ito. Estava procurando qualquer razão que servisse com o desculpa para não
ir. Meu di
a tinha sido bem ruim até ali. Não sabia se conseguiria suportar m ais
algum as horas naquele lugar infernal.
— B, a tem pestade não deve chegar antes de, tipo, três da m anhã por aí.
Desde que estej am os em casa até essa hora, vai ficar tudo bem .
— Tenho um m onte de lição de casa.
— Mas você não precisa entregar nada até quarta-feira. Pode fazer
am anhã, pode passar o dia todo fazendo lição se quiser.
Eu dei um suspiro.
— Você e a Jessica não conseguem outra carona? Realm ente não estou a
fim . Foi um dia péssim o, Casey.
Eu sem pre podia contar com Casey se adiantando ao m enor sinal de
problem as.
— O que houve? — perguntou. — Você está bem ? Você não parecia m uito
bem no alm oço. É algum a coisa sobre a sua m ãe?
— Casey …
— Conte o que aconteceu.
— Nada — garanti. — Mas hoj e o dia foi um a droga, entende? Não
aconteceu nada im portante ou coisa assim . Só não estou com paciência para ir
para a farra com vocês esta noite.
Houve um m om ento de silêncio do outro lado da linha. Finalm ente, Casey
disse:
— Bianca, você sabe que pode contar qualquer coisa pra m im , né? Sabe que
pode conversar com igo se precisar. Não fique guardando as coisas pra você. Isso
não é saudável.
— Casey, estou be…
— Você está bem — ela m e interrom peu. — Certo, sei disso. Só estou
dizendo que, se tiver um problem a, estou aqui pra aj udar.
— Eu sei — m urm urei. E m e senti culpada por deixá-la aflita com algo tão
estúpido. Eu tinha o péssim o hábito de esconder as m inhas em oções, e Casey
sabia disso m uito bem . Ela sem pre estava tentando cuidar de m im . Sem pre
tentando fazer com que eu com partilhasse m eus sentim entos para que depois eles
não explodissem na m inha cara. Aquela introm issão podia ser bem irritante, m as
saber que alguém se preocupava com igo… bem , era bacana. Não podia m e
irritar de verdade com isso. — Eu sei, Casey. Mas estou bem . É só que… hoj e eu
descobri que Toby tem nam orada e fiquei m eio desanim ada. Só isso.
— Ah, B — m urm urou ela. — Que droga! Sinto m uito. Talvez, se você vier
com a gente esta noite, Jessica e eu conseguim os anim ar você. Sabe, com duas
bolas de sorvete e tudo o m ais.
Dei um a risadinha.
— Obrigada, m esm o assim , não. Acho que vou ficar em casa esta noite.
Desliguei o telefone e fui para o andar de baixo, onde encontrei m eu pai
usando o telefone sem fio na cozinha. Eu o ouvi antes m esm o de vê-lo. Ele estava
gritando. Fiquei parada na porta, achando que ele m e veria e im ediatam ente
falaria m ais baixo. Pensei que algum atendente de telem arketing estivesse
levando um a bronca de Mike Piper, m as aí m eu nom e foi citado.
— Pense na Bianca e no que você está fazendo com sua filha! — Os gritos
de m eu pai, im agino que de raiva, soavam m ais com o um a súplica. — Isso não
faz bem para um a garota de dezessete anos. Ela precisa de você em casa, Gina.
Nós precisam os de você aqui.
Escapuli para a sala de estar, surpresa em vê-lo falar assim com m am ãe.
Para ser sincera, não sabia com o deveria m e sentir a respeito das coisas que ele
dissera. Quer dizer, claro que sentia falta da m inha m ãe. Se ela estivesse sem pre
em casa, a vida seria m uito legal, m as àquela altura j á estávam os acostum ados a
ficar sem ela.
Minha m ãe era palestrante m otivacional. Quando eu era pequena, ela
escreveu um livro de autoaj uda, inspiracional, desses que ensinam você a
fortalecer sua autoestim a. Não tinha vendido m uito bem , m as ela recebia
convites para falar em universidades, grupos de apoio e form aturas por todo o
país. E, com o o livro não era um cam peão de vendas, as palestras dela não eram
tão caras.
Durante um tem po, m inha m ãe aceitou apenas palestras na região. Das que
podia fazer e voltar para casa dirigindo, assim que term inasse de ensinar as
pessoas a se am arem . Mas depois da m orte da m inha avó, quando eu tinha doze
anos, m am ãe ficou m eio deprim ida. E m eu pai veio com a ideia de ela tirar
um as férias. Queria que ela desse um a escapadela por um as duas sem anas.
Quando m am ãe voltou, contou sobre os lugares que tinha visto e as pessoas
que tinha conhecido. Acho que talvez tenha sido isso que instigou sua m ania de
viaj ar. Porque, depois de suas prim eiras férias, m inha m ãe com eçou a agendar
palestras em todo canto. No Colorado e em New Ham pshire. Eram verdadeiras
turnês de palestras m otivacionais.
Só que a turnê em que estava agora tinha sido a m ais longa. Ela estava longe
de casa havia quase dois m eses, e eu nem sabia m ais por onde ela andava.
Obviam ente era por isso que o m eu pai estava tão irritado. Porque ela estava
ausente havia m uito, m uito tem po.
— Droga, Gina! Quando você vai deixar de se com portar com o um a
criança e voltar pra casa? Quando você volta para nós… para ficar? — A form a
com o m eu pai hesitou para pedir aquilo quase m e fez chorar. — Gina… —
m urm urou ele. — Gina, nós am am os você. Bianca e eu sentim os sua falta e
querem os que volte.
Eu m e esprem i contra a parede que m e separava de m eu pai, m ordendo o
lábio. Deus, aquilo estava ficando patético. Quero dizer, por que eles
sim plesm ente não pediam o divórcio? Eu era a única que enxergava que as
coisas não iam bem ? Por que continuavam casados se m am ãe estava sem pre
indo em bora?
— Gina… — disse papai, e pareceu que ele ia cair no choro a qualquer
instante. Então o ouvi desligar o telefone. A conversa tinha acabado.
Dei a ele alguns m inutos antes de entrar na cozinha.
— Oi, papai. Tudo bem ?
— Sim — respondeu ele. Deus, ele m entia m uito m al. — Ah, está tudo bem ,
Abelhinha. Acabo de falar com a m am ãe e… ela m andou dizer que am a você.
— Onde ela está agora?
— Ah… em Orange County — disse ele. — Visitando a sua tia Leah
enquanto dá palestras em um a escola de ensino m édio de lá. Bacana, né? Você
pode dizer aos seus am igos que a sua m ãe está lá em O. C. Você gosta dessa
série, não?
— Sim — concordei. — Bem , gostava… m as foi cancelada há alguns anos.
— Ah, bem … parece que estou atrasado, Abelhinha. — Segui o olhar dele
para o balcão, onde ele tinha deixado as chaves do carro. Ele notou e desviou o
olhar no m esm o m om ento, antes que eu pudesse dizer algum a coisa. — Quais
são seus planos pra hoj e à noite? — perguntou m eu pai.
— Bom , eu poderia fazer algum a coisa, m as… — Lim pei a garganta, sem
saber com o continuar. Papai e eu não estávam os realm ente acostum ados a
conversar. — Eu poderia ficar em casa tam bém . Quer que eu fique e, tipo,
assista televisão com você ou algum a coisa assim ?
— Ah, não, Abelhinha — disse ele com um sorriso nada convincente. — Vá,
divirta-se com as suas am igas. Até porque acho que hoj e vou dorm ir bem cedo.
Olhei dentro dos olhos dele, esperando que m udasse de opinião. Meu
pai
sem pre ficava m uito triste depois das brigas com m am ãe. Eu estava preocupada
com ele, m as não sabia m uito bem com o dizer isso.
E, lá no fundo, eu tinha m edo. Era bobagem , na verdade, m as não conseguia
apenas esquecer. Meu pai era um alcoólatra em recuperação. Quero dizer, ele
tinha parado de beber antes de eu nascer e não tinha bebido sequer um a gota
desde então… m as às vezes, quando as brigas com a m inha m ãe ficavam feias,
eu realm ente m e assustava. Tinha m edo de que ele pegasse o carro e fosse direto
para a loj a de bebidas ou qualquer coisa desse tipo. Eu disse que era bobagem ,
m as era um m edo do qual não conseguia m e livrar.
Papai interrom peu nosso contato visual, parecia desconfortável. Deu as
costas para m im e foi até a pia lavar o prato no qual tinha com ido espaguete. Eu
queria ir até lá, tirar o prato da m ão dele — sua desculpa patética para evitar
um a conversa — e j ogá-lo no chão. Queria lhe dizer que toda essa história com a
m am ãe era estupidez. Queria que ele percebesse que enorm e perda de tem po
eram todas essas brigas e discussões idiotas, que ele só precisava adm itir que as
coisas não iam bem .
Mas, é claro, não podia fazer isso. Tudo o que consegui dizer foi:
— Pai…
Ele m e encarou, balançando a cabeça, com um pano úm ido na m ão.
— Saia daqui, vá se divertir — disse ele. — Falo sério, quero que vá. Só se é
j ovem um a vez.
Não tinha com o discutir. Aquela era a m aneira sutil de m eu pai m e inform ar
que ele queria ficar sozinho.
— Tudo bem … — respondi. — Se você tem certeza… Vou telefonar pra
Casey.
Subi a escada para o m eu quarto. Apanhei m eu celular em cim a da côm oda
e cham ei o núm ero de Casey. Depois de dois toques, ela atendeu.
— Oi, Casey. Mudei de ideia sobre irm os ao Nest… E… você acha que
estaria tudo bem se eu dorm isse na sua casa esta noite? Conto tudo m ais tarde,
m as… é que não quero ficar em casa hoj e.
Dobrei novam ente as roupas lim pas do chão antes de sair, m as isso não m e
aj udou tanto quanto costum ava aj udar.
capítulo 3
— Mais um a, Joe. — Deslizei m eu copo vazio pelo balcão na direção do
bartender, que o apanhou sem dificuldade.
— Sem chance, Bianca.