Duff
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costum e e se adiantou.
— Você falou com ela?
— Não — adm itiu papai. — Mas tenho certeza de que foi esse o problem a.
Deve ser. Nada para se preocupar, Abelhinha. Com o foi seu dia?
— Foi bom .
Am bos estávam os m entindo, m as eu sabia que m inhas palavras não eram
verdadeiras. Ele, por outro lado, parecia genuinam ente convencido. Com o eu
poderia relem brá-lo de que a assinatura de m am ãe estava nos papéis? Com o
poderia trazê-lo de volta à realidade? Aquilo apenas o levaria de volta ao
quarto… ou o faria procurar outra garrafa… e arruinaria esse m om ento de paz
inventada.
E eu não queria ser aquela que ferraria a sobriedade do m eu pai.
Ele estava em choque, decidi enquanto subia a escada para m eu quarto.
Meu pai sim plesm ente estava em choque. Mas a negação não duraria para
sem pre. Com o tem po ele acordaria. Só esperava que fizesse isso com j eitinho.
Estiquei-m e na cam a com o livro de cálculo na m inha frente, tentando fazer
um a lição de casa que eu realm ente não entendia. Meus olhos ficavam pulando
para o relógio na m inha m esa de cabeceira. 15h28… 15h31… 15h37… os m inutos
passavam , e os problem as de m atem ática se transform avam em padrões
borrados de sím bolos incom preensíveis, com o runas ancestrais. Finalm ente,
fechei o livro com força e declarei m inha derrota.
Isso era doentio. Eu não devia estar pensando em Wesley. Não devia estar
beij ando Wesley. Não devia estar dorm indo com Wesley. Fala sério, há m ais ou
m enos um a sem ana eu acharia horrível apenas falar com ele. Contudo quanto
m ais m eu m undo girava, m ais atraente ele se tornava. Não m e interprete m al, eu
ainda o odiava com paixão. Sua arrogância m e dava vontade de gritar, m as sua
habilidade de m e liberar — ainda que tem porariam ente — dos m eus problem as
m e deixava anestesiada. Ele era m inha droga. Era m esm o m uito doentio.
E ainda m ais doentia foi a m aneira com o m enti para Casey sobre aquilo
quando ela ligou, às cinco e m eia da tarde.
— Ei, você está bem ? Ai, m eu Deus, não posso acreditar que Jake voltou.
Você está, tipo, surtando? Você precisa que eu vá aí?
— Não. — Eu estava nervosa, ainda espiando o relógio a cada poucos
m inutos. — Estou bem .
— Não guarde isso, B — pediu ela.
— Não estou guardando. Estou bem .
— Estou indo aí — disse ela.
— Não — falei rapidam ente. — Não venha. Não tem por quê.
Houve silêncio por um segundo, e, quando Casey falou novam ente, ela
pareceu m eio m agoada:
— Certo… m as, quero dizer, m esm o que nós não falássem os de Jake,
poderíam os só ficar j untas ou algo assim .
— Não posso — falei. — Eu, hã… — 17h33. Faltava um a hora para ir à
casa de Wesley. Mas eu não podia contar aquilo a Casey. Nunca. — Acho que eu
devia ir m ais cedo para a cam a esta noite.
— O quê?
— Fiquei acordada até m uito tarde na noite passada assistindo, hã… um
film e. Estou exausta.
Casey sabia que eu estava m entindo. Era m uito óbvio. Mas ela não m e
questionou. Ao contrário, apenas disse:
— Bom … tudo bem , eu acho. Talvez am anhã? Ou neste fim de sem ana?
Você realm ente precisa falar disso, B. Mesm o que ache que não precisa. Só
porque ele é o irm ão de Jessica…
Pelo m enos Casey pensava que eu estava m entindo para encobrir m inhas
questões com Jake. Eu preferia que ela pensasse assim a saber a verdade.
Meu Deus, eu era um a droga de am iga. Mas Wesley era algo sobre o qual
eu precisava m esm o m entir. Para todos.
Quando as 18h45 finalm ente chegaram , agarrei m eu casaco e corri escada
abaixo, j á tirando as chaves do m eu carro do bolso. Encontrei papai na cozinha,
esquentando alguns Pizza Rolls no m icro-ondas.
Ele sorriu para m im enquanto eu vestia m inhas luvas.
— Ei, pai. — cham ei. — Volto m ais tarde.
— Aonde você vai, Abelhinha?
Ah, anh, boa pergunta. Esse era um problem a que eu não tinha antecipado,
m as, quando tudo m ais falhar, diga a verdade… ou parte dela, ao m enos.
— Estou indo à casa de Wesley Rush. Estam os escrevendo um trabalho pra
aula de inglês. Não vou chegar tarde em casa nem nada. — Ah, por favor, pensei.
Por favor, não deixe minhas bochechas ficarem vermelhas.
— O.k. — disse papai. — Divirta-se com Wesley.
Corri da cozinha antes que m eu rosto irrom pesse em cham as.
— Tchau, papai!
Praticam ente corri até m eu carro e tentei com m uito, m uito em penho, não
acelerar quando cheguei à avenida. Eu não ia receber m inha prim eira m ulta por
causa de Wesley Rush. Em algum a coisa era preciso ter lim ite.
Até porque eu j á tinha ultrapassado um a série de lim ites.
Mas o que exatam ente eu estava fazendo? Sem pre debochei de garotas que
transavam com Wesley, e ainda assim aqui estava eu, virando um a delas. Disse a
m im m esm a que havia um a diferença. Aquelas garotas achavam que tinham
um a chance com Wesley ; elas o achavam sexy e atraente — o que, de um j eito
estranho, eu acho tam bém . Elas acreditavam que ele era um cara bom , que
podiam dom á-lo, contudo eu sabia que ele era um babaca. Eu só queria o corpo
dele. Sem com prom isso. Sem sentim entos. Eu só queria o barato.
Aquilo m e tornava um a viciada e um a vadia?
Meu carro parou na frente da casa gigantesca, e eu decidi que m eus atos
eram perdoáveis. As pessoas com câncer fum avam m aconha com fins
m edicinais; m inha situação era bem sim ilar. Se eu não usasse Wesley para m e
distrair, enlouqueceria, então na verdade estava m e poupando da autodestruição
e de um a pilha de contas de terapia.
Atravessei o cam inho que levava até a casa e toquei a cam painha. Um
segundo depois, a tranca fez um clique e a m açaneta girou. No instante em que o
rosto sorridente de Wesley apareceu na porta, eu sabia que, independentem ente
da m inha decisão, essa coisa toda era errada. Repugnante. Noj enta. Doentia.
E com pletam ente excitante.
capítulo 11
Meu cabelo desarrum ado denunciava que tínham os transado. Encarei m eu
reflexo no espelho e tentei alisar a bagunça que eram as ondas ruivas em m inha
cabeça. Wesley vestia suas roupas atrás de m im . Aquela era, definitivam ente,
um a situação em que eu não m e im aginava envolvida.
— Eu não m e im porto de ser usado — disse ele enquanto vestia sua
cam iseta preta e j usta. O cabelo dele tam bém denunciava o que tinha acontecido
—, m as eu adoraria saber para que exatam ente.
— Distração.
— Isso eu j á tinha percebido. — As m olas do colchão estalaram quando ele
se deitou de costas. Wesley ergueu os braços e os cruzou atrás da cabeça. — Do
que exatam ente estou distraindo você? Há um a chance de eu desem penhar o
m eu papel de form a m ais eficiente se souber m ais detalhes.
— Você j á está sendo ótim o pra m im . — Penteei m eus cabelos com os
dedos, sabendo que não ia adiantar m uito. Eu m e virei, suspirando, e encarei
/> Wesley. Para m inha surpresa, ele m e olhava com interesse sincero. — Você
realm ente se im porta?
— É claro. — Wesley sentou na cam a e bateu no colchão, indicando que eu
m e sentasse ao seu lado. — Há m uito m ais neste corpo incrível do que um
tanquinho m alhado. Vej a, tenho um par de orelhas, e elas funcionam
incrivelm ente bem .
Revirei os olhos e m e sentei j unto dele, colocando os pés para cim a da
cam a.
— Certo — falei enquanto abraçava m eus próprios j oelhos. — Não que isso
sej a de grande im portância, m as descobri que m eu ex-nam orado vai passar
alguns dias na cidade. Pode soar estúpido, m as entrei em pânico. Vam os apenas
dizer que a últim a vez que nos vim os, bem … as coisas não acabaram da m elhor
form a. Esse é o m otivo pelo qual puxei você pra dentro do arm ário da escola.
— O que aconteceu?
— Você estava lá. Por favor, não m e faça reviver isso.
— Não, não, estou falando do seu ex-nam orado — explicou Wesley. — É só
curiosidade. Que tipo de m aldade poderia fazer um a pessoa tão cheia de ódio
com o você correr para os m eus braços m usculosos? Ou foi ele que transform ou
seu coração em um a pedra de gelo? — Seu tom era sarcástico, m as o sorriso
aparentava sinceridade. Muito diferente da expressão torta que fazia com a boca
quando se sentia esperto.
— Com eçam os a nam orar no m eu prim eiro ano — contei com relutância
—, ele era m ais velho. Eu estava certa de que, se m eus pais descobrissem a
idade dele, tentariam im pedir a gente de se ver. Transform am os nosso
relacionam ento num segredo, escondem os de todo m undo. Ele nunca m e
apresentou aos am igos, nunca m e levou pra passear nem falou sobre a gente na
escola. Na época, eu acreditava que era para nos proteger. Mas é claro que eu
estava enganada.
O olhar fixo de Wesley fazia m inha pele coçar. Meu Deus, com o isso m e
incom odava! Ele provavelm ente m e encarava com pena. Pobre Duff. Eu sentia a
tensão em m eus om bros enquanto olhava para m inhas próprias m eias, tentando
evitar a reação dele à m inha história. Wesley e Casey eram as únicas pessoas
para as quais eu havia contado tudo o que aconteceu.
— Então vi que ele com eçou a andar com um a garota pela escola —
continuei —; toda vez que perguntava, ele m e dizia que era apenas um a am iga e
que eu não devia m e preocupar. E foi o que fiz. Quer dizer, ele tinha dito que m e
am ava. Eu não tinha razões para desconfiar e acreditava nele. Por que não levar
na boa?
Wesley não respondeu.
— Então ela descobriu. A garota m e seguiu e m e m andou parar de dorm ir
com o seu nam orado. Eu pensei que aquilo tudo era um engano, então decidi
perguntar pra ele o que estava acontecendo…
— E não tinha sido um engano — adivinhou Wesley.
— Não, não era. O nom e da nam orada dele era Tiffany, e eles estavam
j untos desde o sétim o ano. Eu era a outra m ulher, ou garota, para ser m ais exata.
Ergui m eu olhar vagarosam ente para encarar Wesley, que tinha um a
expressão de noj o no rosto.
— Que babaca! — disse ele.
— Olha quem está falando. Você é o m aior riquinho m ulherengo que eu
conheço.
— Verdade — adm itiu ele —, m as não faço falsas prom essas. Ele disse que
am ava você, assum iu um com prom isso. Eu j am ais faria isso. Um a garota pode
acreditar no que ela quiser, m as não falo coisas que não sinto de verdade. O que
esse garoto fez só prova que ele é um verdadeiro canalha.
— De qualquer form a, ele estará de volta esta sem ana e vai trazer
Tiffany … a noiva dele.
Wesley assobiou baixinho.
— Bom , isso pode ser constrangedor.
— Você acha?
Nós dois ficam os em silêncio por alguns instantes quando Wesley,
finalm ente, perguntou:
— Então, quem é ele? Eu m e lem braria?
— Talvez. O nom e dele é Jake Gaither.
— Jake Gaither! — O rosto dele denunciou seu susto. — Jake Gaither?!
Aquele cara esquisito? A aberração cheia de acne e com um nariz em form a de
gancho? — Os olhos dele estavam arregalados. — Com o foi que aquele cara
conseguiu ter duas garotas ao m esm o tem po? Por que alguém sairia com ele?
Por que você sairia com ele? O cara parecia um m onstro!
Franzi a testa.
— Obrigada — m urm urei. — Não passou pela sua cabecinha que talvez ele
sej a o m elhor que alguém com o eu, um a Duff, pode conseguir?
A expressão de Wesley m udou. Ele tirou os olhos de m im e exam inou nossos
reflexos no espelho do outro lado do quarto. Após alguns segundos de um duro
silêncio, ele disse:
— Sabe, Bianca, você nem é tão m á assim . Tem potencial. Talvez se você
andasse com m eninas diferentes…
— Acho m elhor você parar por aí. — falei. — Olha só, nós j á transam os
duas vezes. Não preciso dos seus elogios. Além disso, am o m inhas am igas e
j am ais as trocaria por um a vontade idiota de parecer m ais gostosa.
— Sério m esm o?
— É claro. Quer dizer, Casey tem sido m inha m elhor am iga desde sem pre.
Ela é a pessoa m ais leal que j á conheci. E Jessica, bem , ela não tem ideia do que
se passou entre m im e o irm ão dela. Nós não éram os am igas naquela época.
Para ser bem sincera, eu nem queria conhecê-la depois que Jake e eu
term inam os, m as Casey achou que seria bom pra m im . Com o sem pre, ela
estava certa. Jessica pode ser m eio tonta às vezes, m as é a pessoa m ais doce e
inocente que conheço. Eu nunca desistiria delas apenas pra parecer m ais
atraente. Isso faria de m im um a verdadeira babaca.
— Elas têm sorte de ter um a am iga com o você.
— Já falei pra você parar de m e elogiar…
— Eu estou sendo sincero. — Wesley encarava seu próprio reflexo no
espelho. — Tenho apenas um am igo, um que considero de verdade. Harrison é o
único cara que você vai ver andando com igo. O m otivo? A gente não j oga no
m esm o tim e, se é que você m e entende. — Eu podia ver um pequeno sorriso
surgindo em seus lábios quando ele virou o rosto para m im . — A m aioria das
pessoas faria de tudo para evitar ser um a Duff.
— Eu não sou a maioria das pessoas.
Ele m e encarou, sério.
— A palavra não incom oda você nem um pouco? — perguntou ele.
— Não. — A m entira cruzou m eus lábios. A palavra m e incom odava, sim ,
m as eu j am ais adm itiria. Especialm ente para ele.
Todo o m eu corpo parecia bastante consciente dos olhos dele sobre m im de
novo. Antes que Wesley pudesse dizer qualquer coisa, m e levantei e cam inhei até
a porta do quarto.
— Olha só — falei enquanto virava a m açaneta —, preciso ir agora, m as
acho que devíam os repetir o que fizem os hoj e. Um a aventura, algo totalm ente
físico, sem com prom isso.
— Você não resiste, né? — perguntou Wesley enquanto se espreguiçava
com um sorriso. — Acredito que sej a um a boa ideia, m as com o sou um cara tão
m aravilhoso, tam bém acho que você devia falar de m im
pra suas am igas. Se
você as am a, tam bém pode dividir o prazer que é estar na m inha presença. Fazê-
las entender a experiência Wesley, se bem que… poderíam os tentar todos j untos.
Seria um a ótim a oportunidade.
Olhei para ele com um a expressão de noj o.
— Justo quando eu com eçava a acreditar que você tinha um a alm a, você
vai e fala um a coisa dessas! — Bati a porta com força e desci a escada correndo.
— Não precisa m e levar até a porta! — gritei. — Eu sei o cam inho!
— Nós nos verem os em breve, Duff.
Que babaca!
Meu pai parecia distante. Acho que suas antenas paternas estavam em curto-
circuito, porque ele m al fez perguntas sobre aonde eu estava indo e com quem ,
nas diversas vezes que saí de casa para ver Wesley naquela sem ana. Qualquer
pai suspeitaria da filha se ela desse a desculpa de “estar fazendo um trabalho”
duas vezes seguidas. Será que ele realm ente acreditava que eu dem oraria tanto
tem po para escrever um trabalho idiota? Ele não deveria estar preocupado com o
que a filha dele poderia estar fazendo?
Aparentem ente não. Toda vez que eu saía de casa ele dizia: “Divirta-se,
Abelhinha!”.
Mas, realm ente, um ar de m istério pairava em volta de m im . Mesm o Casey,
que m e observava com o um a águia desde que Jake tinha chegado à cidade, não
havia sequer erguido a hipótese de algo estar acontecendo entre m im e Wesley.
Apenas as piadas de sem pre sobre a queda que eu tinha por ele. É claro que eu
estava fazendo de tudo para esconder as evidências, porém , m ais de um a vez,
tive certeza de que seria descoberta.
Com o na sexta-feira à tarde. Estávam os no m eu quarto nos aprontando para
ir ao Nest. Para ser sincera, Casey era quem estava se arrum ando. Eu apenas
sentei na m inha cam a e assisti enquanto ela fazia poses no espelho. Já tínham os
feito aquilo um m ilhão de vezes, m as, com Jessica aproveitando cada instante
j unto do irm ão, o quarto parecia assustadoram ente vazio. Quase assom brado.
Ela era tão diferente de nós duas! Casey e eu não éram os nada parecidas,
m as Jessica vinha de outro planeta. Ela era sem pre um raio de sol. O copo dela
estava sem pre m etade cheio, e isso ainda nos chocava. Ela m antinha o equilíbrio
do grupo com seu enorm e sorriso e sua inocência ingênua. Enquanto Casey e eu