Duff

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by Kody Keplinger


  diferença era que, daquela vez, ela queria m inha aj uda. Norm alm ente eu teria

  aceitado fazer qualquer coisa que Casey pedisse, m as, se tratava de Jessica

  Gaither. O sobrenom e dela m e im pedia de desej ar qualquer aproxim ação, ela

  que se virasse sozinha.

  Não que eu fosse um a pessoa sem coração. Só não queria conhecer a irm ã

  de Jake Gaither. Não depois de tudo o que ele tinha feito com igo, não depois de

  toda a dor que tinha enfrentado um ano antes.

  Fui dando um j eito de não m e envolver na situação. Até certo dia, no

  refeitório, quando ouvim os um grito:

  — Meu Deus, Jessica, você tem algum problem a m ental ou coisa parecida?

  Casey e eu viram os de costas em nossas cadeiras e encaram os as líderes de

  torcida enquanto elas hum ilhavam Jessica, que era, pelo m enos, um a cabeça

  m ais baixa do que as outras. Ou talvez fosse a sua postura.

  — Eu m andei você fazer um a coisa sim ples — bronqueou a líder de torcida,

  apontando para o prato que Jessica carregava. — Um a coisinha sim ples. Nada de

  m olho na m inha salada! É tão difícil entender?

  — A salada j á vem pronta, Mia — balbuciou Jessica, seu rosto ficando

  rosado. — Eu não…

  — Você é um a idiota. — A líder de torcida virou-se e se afastou, com o rabo

  de cavalo balançando às suas costas.

  Jessica ficou parada, olhando para o prato em suas m ãos. A pupila dilatada

  denunciava a tristeza em seus olhos. Ela parecia tão pequena. Tão fraca, tão

  insignificante... Naquele m om ento, não pensei na beleza dela. Nem m esm o no

  quanto ela era engraçadinha. Era só um a m enina frágil e inquieta. Com o um

  ratinho.

  — Anda logo, Jessica! — Outra líder de torcida exclam ou em tom irritadiço.

  — Não vam os ficar guardando lugar pra você. Jesus.

  Eu podia sentir Casey olhando para m im e sabia o que ela queria. E, olhando

  para Jessica, sim plesm ente não podia fingir que não entendia o m otivo. Se

  alguém precisava de um pouco de “Deixe tudo com a Casey ” era aquela garota.

  Além disso, ela não se parecia em nada com o irm ão. Isso tornou a decisão bem

  m ais sim ples.

  Respirei fundo e gritei:

  — Ei, Jessica!

  A m enina sobressaltou-se com o berro e se virou em m inha direção. Ela m e

  olhou com um ar assustado que quase partiu m eu coração.

  — Venha com er com a gente. — Não era um a pergunta. Nem m esm o um a

  proposta. Era um a ordem . Eu não estava lhe dando escolha. Mas, m esm o que

  não fosse um a ordem , se aquela m enina tivesse j uízo, escolheria se j untar a nós.

  Jessica se apressou em direção a nossa m esa. Podíam os perceber um ar de

  irritação vindo das líderes de torcida. Casey estava totalm ente radiante com

  m inha iniciativa. Isso foi tudo. Fim da história.

  Contudo, isso não se parecia tanto com o passado naquele m om ento,

  enquanto eu via a pequena caloura correr em direção à barraca de lanches.

  Percebi que a calça j eans que usava era errada para ela — a garota não tinha as

  curvas necessárias para um a calça de cintura tão baixa —, e sua péssim a postura

  a fazia parecer estranha. Esse pequenos detalhes a faziam parecer diferente das

  suas supostas am igas. Um reflexo am bulante da m enina que Jessica tinha sido.

  Fazia m uito tem po. E só agora eu conhecia a palavra que definia esse tipo de

  m enina.

  Duff.

  Não havia dúvida algum a. Aquela caloura era, com certeza, a Duff daquele

  grupo de patricinhas que m andavam nela. A questão não era ela ser feia — e

  com certeza ela não era gorda —, e sim que, entre as outras três, ela seria

  sem pre a últim a a ser notada. E eu não conseguia parar de pensar: será que esse

  não era j ustam ente o obj etivo? Será que perm itiam que ela fizesse parte do grupo

  não apenas para ser usada de em pregada, m as tam bém para fazer com que as

  outras parecessem m ais bonitas?

  Olhei para Jessica novam ente, lem brando-m e de com o ela parecera

  pequena e frágil naquele dia. Nada engraçadinha. E nada bonita. Apenas

  patética. A Duff. Agora Jess era linda. Voluptuosa, adorável e… bem , sexy.

  Qualquer garoto — exceto Harrison, infelizm ente — gostaria de ficar com ela. O

  m ais estranho era que Jessica não parecia tão diferente assim . Não na aparência,

  pelo m enos. Ela sem pre teve curvas e longos cabelos loiros. O que havia

  m udado, então?

  Com o era possível um a das garotas m ais lindas que j á conheci um dia ter

  sido um a Duff? Qual era a lógica disso tudo? Era com o Wesley m e cham ando de

  sexy e Duff ao m esm o tem po. Apenas não fazia sentido.

  Então não era preciso ser gorda e feia para ser Duff? Quer dizer, Wesley

  contara aquela noite no Nest que alguém era cham ado de Duff quando

  com parado com outra pessoa. Isso significava que garotas de certa form a

  atraentes tam bém poderiam ser consideradas Duffs?

  — Você acha que devem os aj udá-la?

  Fiquei em choque por um instante, e um pouco confusa. Percebi que Jessica

  acom panhava a novata, que estava voltando para a arquibancada.

  Foi quando um pensam ento horrível m e atingiu. Um pen-sam ento que fez de

  m im oficialm ente a pior pessoa do planeta. Considerei, por um a fração de

  segundo, trazer a caloura para o nosso grupo e transform á-la em nossa Duff.

  Talvez assim eu não fosse m ais a Duff da turm a.

  Eu podia ouvir a voz de Wesley m artelando em m inha cabeça. A maioria

  das pessoas faria de tudo para evitar se tornar uma Duff. Eu havia lhe dito que eu

  não era com o a m aioria das pessoas, m as será que era tão diferente? Será que

  não era igual àquelas líderes de torcida — que agora nem estavam m ais na

  escola — que m altrataram Jessica, ou com o essas três m eninas com seus rabos

  de cavalo perfeitos perto de m im na arquibancada?

  Antes que eu pudesse decidir se aj udava ou não a caloura — fosse qual

  fosse a razão —, o sinal soou e a m ultidão se ergueu aos berros, entoando gritos

  de guerra e festej ando, bloqueando nossa visão da pequena figura de cabelos

  negros. Ela j á tinha se afastado, assim com o m inha oportunidade de aj udá-la ou

  de m e aproveitar de sua inocência.

  O j ogo estava encerrado.

  Os Panthers ganharam .

  Eu ainda era a Duff.

  capítulo 13

  O Dia dos Nam orados tam bém poderia ser cham ado de Dia Anti-Duff. Quer

  dizer, que outra data poderia m achucar m ais a autoestim a de um a garota? Não

  que im portasse. Eu j á odiava o Dia dos Nam orados m uito antes de ter m e dado

  conta de m eu status de Duff. Sinceram ente, não era capaz de entender o m otivo

  daquele feriado. Sério m esm o, é apenas um a desculpa para garotas

  choram ingarem sua solidão e um cam inho para os garotos conseguirem transar.

  Eu achava m aterialista, indulgente e, com todo aquele chocolate, nada saudável.

  — É o m eu dia favorito do ano! — com em orou Jessica enquanto dançava

  no corredor a cam inho de sua aula de espanhol. Era a prim eira vez que eu a via

  anim ada com algum a novidade desde a partida de Jake dois dias antes. — Todo

  aquele cor-de-rosa e verm elho! As flores e os doce
s! Não é divertido, Bianca?

  — Claro.

  Já fazia um a sem ana desde o j ogo de basquete, e nenhum a de nós tinha

  m encionado a caloura desde que deixam os o ginásio naquela noite. Eu m e

  perguntava se Jess j á teria esquecido aquilo. Sorte a dela. Eu não conseguia. Não

  poderia. Aquela garota e sua sem elhança com igo — a identidade Duff que

  dividíam os — estavam à espreita, bem atrás de m im , todos os dias desde que a

  vi.

  Certam ente não tocaria no assunto. Não com Jessica. Com ninguém .

  — Que droga, eu só queria que o Harrison tivesse m e enviado um cartão —

  disse ela —; isso teria sido perfeito. Acho que não podem os ter tudo o que

  desej am os, né?

  — Não, não podem os.

  — Você sabe, esse é o prim eiro ano que nós três estam os solteiras! —

  continuou Jessica. — Ano passado eu estava com Terrence, e um ano antes

  Casey estava com Zack. Acho que poderíam os fazer um a festinha de Dia dos

  Nam orados só pra nós. Seria m uito divertido. Esse é provavelm ente o últim o Dia

  dos Nam orados que passam os j untas antes da faculdade, e nós não tem os saído

  ultim am ente. O que você acha? Podem os ir pra m inha casa e celebrar!

  — Parece um a boa ideia.

  Jessica j ogou um braço em volta dos m eus om bros.

  — Feliz Dia dos Nam orados, Bianca!

  — Pra você tam bém , Jessica. — Sorri, apesar de não querer sorrir. Eu não

  podia m e controlar. Jessica tinha um sorriso cativante, e era difícil ser negativa

  perto de alguém tão saltitante.

  Chegam os à nossa sala de aula e descobrim os que a professora nos

  esperava.

  — Bianca — disse ela quando passam os pela porta. — Acabei de receber

  um e-m ail de um a das secretárias da recepção. Ela precisa da aj uda de alguns

  estudantes para distribuir as flores que nos foram enviadas. Com o você está

  avançada com seu trabalho, im porta-se de fazer esse favor para m im ?

  — Hum … pode deixar.

  — Nossa, que divertido! — Jessica m e libertou de seu abraço. — Você vai

  entregar as flores. É quase com o se você fosse o Cupido!

  Legal. Que divertido.

  — Vej o você m ais tarde — falei para Jessica enquanto deixava a sala de

  aula. Fui abrindo cam inho por entre a m ultidão de alunos, lutando contra a

  corrente, tentando chegar à recepção da escola. Parecia haver casais em todos

  os cantos, dem onstrando publicam ente seu afeto — de m ãos dadas, trocando

  olhares, dando presentinhos, agarrando-se — para que toda a escola

  testem unhasse.

  — Noj ento — m urm urei.

  Eu estava na m etade do cam inho quando a m ão de alguém agarrou m eu

  om bro com força.

  — Olá, Duff.

  — O que você quer?

  Wesley sorria ironicam ente para m im quando m e virei para encará-lo.

  — Eu só queria avisá-la que, se você decidir aparecer hoj e à noite, é

  provável que eu estej a ocupado. Com o é o dia do am or, m inha agenda está

  consideravelm ente lotada.

  Agora ele estava soando com o um am ante profissional.

  — Caso você estej a m uito desesperada pra m e ver, estarei livre em torno

  das onze horas.

  — Acredito que eu possa sobreviver a um a noite sem você, Wesley — falei.

  — Na verdade, posso sobreviver até a eternidade.

  — É claro que pode. — Ele soltou m eu om bro e deu um a piscadela. — Vej o

  você hoj e à noite, Duff. — E então partiu, desaparecendo no m eio da onda de

  alunos que estavam prestes a chegar atrasados às aulas.

  — Babaca! — resm unguei. — Meu Deus, com o odeio esse cara!

  Alguns m inutos depois, cheguei à recepção onde a secretária, um a pilha de

  nervos, sorriu para m im com alívio.

  — A sra. Rom ali a enviou? Por aqui, por aqui. A m esa está aqui. — Ela m e

  direcionou a um a m esa dobrável verde cor de vôm ito. — Aqui está. Divirta-se!

  — Isso parece pouco provável.

  A m esa estava coberta — literalm ente coberta — de buquês, vasos, caixas

  em form atos de coração e cartões. Pelo m enos cinquenta pacotes verm elhos e

  cor-de-rosa estavam ali para ser entregues, e era m eu o privilégio de distribuir

  tanta alegria.

  Eu estava pensando por onde com eçar quando ouvi passos atrás de m im .

  Presum indo que seria a secretária voltando, perguntei sem m e virar:

  — Você tem a lista com as turm as para eu saber em que sala entregar cada

  presente?

  — Sim , eu tenho.

  Aquela não parecia ser a voz da secretária.

  Eu m e virei rapidam ente, chocada com a voz que acabara de m e responder.

  Era a voz de alguém que eu conhecia m uito bem , apesar de nunca — nem um a

  vez — ter falado diretam ente com igo.

  Toby Tucker sorriu.

  — E aí?

  — Desculpe, pensei que era outra pessoa.

  — Eu não pretendia assustá-la — disse ele. — Então você tam bém caiu

  nessa arm adilha, não foi?

  — Pois é. — Eu estava aliviada em saber que m inhas cordas vocais não

  estavam paralisadas.

  Com o sem pre, Toby estava vestindo um blazer form al dem ais para a escola,

  o cabelo loiro caído sobre o rosto em um corte antiquado, tipo tigela. Adorável.

  Único. Inteligente. A personificação de tudo o que eu gostava em um hom em . Se

  acreditasse em um a coisa idiota com o o destino, pensaria que foi ele que nos

  unira no Dia dos Nam orados.

  — Aqui está a lista das turm as — disse ele, entregando-m e um caderno

  esverdeado. — Acho que devíam os com eçar logo; isso provavelm ente vai levar

  um bom tem po para ser feito. — Os olhos dele escanearam , através dos óculos

  ovais, a pilha de presentes. — Acho que nunca vi tantos tons de cor-de-rosa

  reunidos em um só lugar.

  — Eu j á, no quarto da m inha m elhor am iga.

  Toby riu e pegou um buquê de rosas brancas e verm elhas. Olhou para a

  etiqueta e disse:

  — Acho que a form a m ais rápida de fazerm os isso é separar os presentes

  em pilhas de acordo com as turm as em que devem ser entregues. Isso vai tornar

  a entrega m ais eficiente.

  — Certo — falei. — Organizar de acordo com a turm a. Tudo bem .

  Percebi que parecia um a idiota com m inhas respostas m enos-do-que-

  eloquentes, m as não havia m uito que pudesse fazer. Quer dizer, apesar de m inha

  voz estar funcionando, isso não significava que eu necessariam ente a usaria de

  form a adequada na presença de Toby. A m inha paixonite por ele j á durava três

  anos, então, dizer que eu estava apenas nervosa seria subestim ar m eu estado

  naquele m om ento.

  A m inha sorte era que Toby pareceu não ter percebido. Conform e fom os

  separando os presentes em pilhas, com eçam os um a conversa educada. Devagar,

  notei que estava ficando confortável em m eu papo com Toby Tucker. Um

  m ilagre do Dia dos Nam orados! Talvez milagre sej a um a palavra forte dem ais

  — teria sido um se ele tivesse m e agarrado em seus braços e se deitado sobre

  m im ali m esm o. Podem os dizer que isso foi então um bônus do Dia dos

  Nam orados. De qualquer form a, m eu j eito im becil de falar com eçou a sum ir à


  m edida que nossa conversa progredia. Obrigada, Deus.

  — Olha só, tem um a pilha aqui para um a tal de Vikki McPhee — disse ele

  enquanto colocava um a caixa de bom bons no topo da pilha. — Será que ela tem

  seis nam orados diferentes?

  — Pelo que sei, são três — falei. — Mas, para ser bem sincera, ela não m e

  conta tudo o que acontece em sua vida.

  Toby balançou a cabeça.

  — Puxa vida! — Ele pegou um cartão e conferiu o destinatário. — E você?

  Algum plano para hoj e à noite?

  — Não.

  Ele colocou o cartão em um a das pilhas.

  — Nem m esm o um encontro com seu nam orado?

  — Isso exigira que eu tivesse um nam orado — respondi —, coisa que não

  tenho. — Evitando despertar qualquer sentim ento de piedade por parte de Toby,

  acrescentei: — E, m esm o que tivesse, não acredito que estaríam os fazendo algo

  especial. O Dia dos Nam orados é um a data estúpida, um a desculpa patética para

  que exista m ais um feriado.

  — Você realm ente acredita nisso? — perguntou ele.

  — É claro que sim . Você sabia que o Dia dos Nam orados é a data em que as

  pessoas m ais contraem doenças sexualm ente transm issíveis? Que m otivo pra

  celebrar!

  Nós dois com eçam os a rir j untos. Por um m inuto, tudo soou m uito natural.

  — E você? — perguntei de volta. — Já fez planos com sua nam orada?

  — Bem , fizem os, sim — disse ele, suspirando profundam ente, e continuou:

  — O único problem a é que term inam os no últim o sábado. Então esses planos

  estão oficialm ente cancelados.

  — Sinto m uito.

  É claro que não era verdade. A única coisa que eu sentia era êxtase e

  alegria. Meu Deus, eu era tão perversa...

  — Eu tam bém . — Houve um a pausa m om entânea que estava quase se

  tornando constrangedora quando ele disse: — Acho que está tudo separado. Está

  pronta para com eçar a fazer as entregas?

  — Estou pronta, m as sem um pingo de vontade. — Apontei para um vaso de

  flores. — Olhe pra isso, quase posso apostar que algum a garota pagou o envio

  para si m esm a, apenas para parecer bem na frente dos am igos. Isso não é triste?

  — Você está m e dizendo que não faria o m esm o? — perguntou Toby com

  um pequeno sorriso no canto da boca.

  — Nunca! — respondi com orgulho. — Quem se im porta com o que os

 

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