Duff
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outro lado, não conseguiria encará-la nos olhos quando ela viesse para cim a de
m im , o que eu sabia que ela estava prestes a fazer. E eu não a culparia por isso.
Bem , certo, eu não conseguia realm ente im aginar a pequena e tím ida Am y
partindo para cima de qualquer coisa, m as ainda assim …
— Eu, hã… tenho um a coisa pra lhe dizer — explicou ela, tentando parecer
determ inada.
Ou, talvez, Am y estivesse chateada com igo por eu facilitar o “estilo de
vida” de Wesley. Talvez ela quisesse m e culpar pelo distanciam ento entre eles.
Se esse fosse o caso, eu iria defendê-lo. Dizer a ela que sua avó estava
deturpando as coisas sobre Wesley. Que ele não era um cara m au — e
definitivam ente não era um irm ão ruim . Mas eu sabia que não devia m e
envolver. Não era assunto m eu consertar os problem as fam iliares dele. Ele nem
fazia m ais parte da m inha vida.
— Certo. Vá em frente.
Lá vai, pensei. Seja o que for que ela disser, não chore.
— Eu… eu quero… — Ela respirou fundo. — Te agradecer.
— Hein? — Virei o rosto para encará-la. Com certeza não ouvira direito. De
m odo algum .
— Te agradecer — repetiu ela. — Por Wesley. Ele… ele está bem diferente,
e sei que é por sua causa. Eu… eu gostei disso, então agradeço.
Antes que eu pudesse pedir m ais explicações — dadas bem devagar para
que eu conseguisse entender —, Am y deu m eia-volta e saiu correndo, com seus
cachos castanhos batendo às costas.
Fiquei ali parada, no m eio da biblioteca, totalm ente confusa.
E foi pior no dia seguinte.
Quando Wesley entrou no corredor, depois do alm oço, eu estava pegando
cadernos no m eu arm ário, e aquilo realm ente não m e surpreendeu. Com o disse,
Wesley estava em todos os lugares. Vikki estava com ele, agarrada ao seu braço e
j ogando o cabelo com o um a garota em um com ercial de xam pu. Ela ria, m as eu
poderia apostar que, fosse lá o que Wesley tivesse dito, não era divertido. Ela
apenas queria inflar o seu ego… com o se precisasse ficar ainda m aior.
— Por aqui — disse ela, rindo e puxando-o para um lugar a centím etros de
m im . — Quero falar com você.
Falar? Pensei. É, não mesmo.
Juro, não tentei ouvir. Sabia que ouvi-los flertando m e deixaria louca da vida,
m as a voz esganiçada de Vikki ecoava e eles estavam realm ente bem próxim os
de m im , e sim , um a parte m asoquista m inha não pôde se conter. Com ecei a
arrum ar os livros no fundo do m eu arm ário, tentando fazer bastante barulho para
não ouvir a conversa deles.
— Quais são seus planos para o baile? — perguntou Vikki.
— Não tenho nada planej ado — respondeu Wesley.
Mexi nos m eus papéis fazendo bastante barulho, na esperança de que,
m esm o não conseguindo abafar as suas palavras, eles pudessem m e notar ali e
fossem se pegar em outro lugar. Quer dizer, eles ainda não estavam se pegando,
m as eu conhecia os dois bem o bastante para saber que não dem oraria m uito
para isso acontecer.
— Bem — disse Vikki, tam bém não m e ouvindo ou apenas não dando a
m ínim a para m inha presença —, pensei que poderíam os ir j untos. — Nem
precisei olhar para saber que ela estava passando suas unhas longas e pintadas
pelo braço de Wesley. Vikki usava as m esm as estratégias com todos os m eninos.
— Pensei que, depois do baile, poderíam os passar algum tem pinho a sós… na sua
casa, talvez?
Tive um a vontade enorm e de vom itar. Peguei m eus livros, bati a porta do
arm ário e m e preparei para fugir para m inha próxim a aula antes de ter que ouvir
Wesley responder “sim ”. Vamos nos pegar!, pensei com am argura. DSTs por
todos os lados! Que se dane tudo. Mas ele respondeu antes que eu conseguisse até
m esm o dar o prim eiro passo.
— Acho que não, Vikki.
Fiquei petrificada, sem conseguir m e m exer.
O quê? O quê? Volte o tem po por um segundo, por favor. Wesley realm ente
dispensou um a garota? Que estava louca para transar com ele? Eu só poderia
estar sonhando.
Vikki parecia passar por um a reação parecida com a m inha.
— O quê? O que você quer dizer?
— Apenas que não estou interessado — respondeu Wesley. — Mas tenho
certeza de que você tem um a lista enorm e de outros caras que adorariam ir com
você. Desculpa.
— Ah… — Vikki deu um passo para trás, parecendo dolorosam ente
surpresa. — Ahn, tudo bem . Sem problem as. Só pensei em perguntar. — Ela
hesitou por um segundo. — Acho que te vej o m ais tarde, certo? Preciso ir pra
aula. Tchau. — E ela seguiu pelo corredor, obviam ente confusa.
Vikki não era a única a se sentir assim .
Era essa a diferença da qual Am y estava falando? Wesley estava,
repentinam ente, inclinado a ser m enos galinha? E se a resposta fosse positiva,
com o isso poderia ser por m inha causa?
Observei enquanto Wesley se afastava do arm ário. Então, pela prim eira vez
em dias, ele olhou para m im . Seus olhos se prenderam nos m eus. Um sorriso
fraco se form ou nos cantos de sua boca, m as a expressão em seus olhos era
indecifrável. Apesar disso, eu podia dizer que ele não estava com raiva. Constatar
isso m e fez sentir m ais relaxada no m esm o instante.
Saber que ele não estava furioso com igo dim inuiu um pouco a culpa…
porém não a fez desaparecer por com pleto. Eu ainda tinha dito algum as coisas
horríveis a ele e, naquele segundo, enquanto o encarava, pensei em dizer algo,
pedir desculpas. Pensei nisso, m as não disse nada.
Wesley deu um passo em m inha direção, e de repente lem brei de quem eu
era — de quem ele era. Mesm o que a rej eição de Vikki por Wesley fosse sem
dúvida surpreendente, não m udava o fato de que eu não tinha nenhum a chance
com ele, de que ele nunca iria querer um relacionam ento de verdade,
especialm ente com igo. Eu tam bém estava nam orando Toby. E, além disso tudo,
sabia que falar com Wesley apenas deixaria m inha vida, que com eçava a
m elhorar, com plicada de novo. Eu não m e castigaria dessa form a.
Então m e virei e com ecei a correr pelo corredor, fingindo que não o tinha
ouvido m e cham ar.
Dim inuí o passo quando virei para outro corredor e vi Toby (m eu
nam orado? Não sei bem com o isso funcionava) esperando por m im j unto à velha
m áquina de lanche quebrada. Ele sorriu e aj eitou os óculos, e eu sabia que ele
estava realm ente feliz em m e ver. Sentia o m esm o ao vê-lo? Sim . Claro que
fiquei feliz em ver Toby, m as m eu sorriso pareceu artificial.
Toby m e abraçou quando m e aproxim ei.
— Ei.
— Oi — sussurrei.
Ele se inclinou e m e beij ou antes de perguntar:
— Tudo bem se eu levar você até sua sala de aula?
Olhei por cim a do om bro, para o corredor vazio.
— Claro — m urm urei, olhando para a frente de novo. Encostei m inha
cabeça no om bro dele. — Isso parece… perfeito.
Alguns dias depois, encontrei Jessica esperando por m im do lado de fora da sala
de cálculo, onde eu tinha acabado de ter a terceira
aula.
— Podem os conversar a cam inho da aula de inglês? — perguntou ela, sem
sua anim ação de costum e ou sua j ogada de cabelo. Eu sabia que algum a coisa
estava errada pelo m odo com o ela m ordia o lábio inferior.
— Claro — respondi, colocando m eus livros sob o braço direito. Ver m inha
am iga eternam ente alegre parecer tão solene m e deixou desconfortável. — Tem
algum a coisa errada?
— Mais ou m enos… não de verdade.
Seguim os j untas pelos corredores, tentando não pisar em m uitos pés. Esperei
que Jessica falasse, m inha curiosidade e m inha ansiedade indo às alturas. Eu
realm ente queria dizer: “Fala logo! Desem bucha!”. Mas, por sorte, ela com eçou
a falar antes que m inha lendária paciência sum isse de vez.
— É sobre você e Toby. Eu só não acho certo vocês estarem j untos. — Ela
disse isso tão rápido que não tive certeza de tê-la ouvido da prim eira vez. —
Desculpa, Bianca — gem eu ela. — Não é da m inha conta, m as não vej o quím ica
entre vocês, entende? E Casey discorda totalm ente de m im . Ela diz que você fica
m elhor com Toby, e ela pode ter razão… não sei. Você não parece você m esm a
quando está com ele. Por favor, não fique brava com igo.
Balancei a cabeça, tentando lutar contra m inha repentina vontade de rir. Era
isso? Era isso que a preocupava? Eu tinha m esm o pensado que alguém estava
m orrendo ou, pelo m enos, que a m ãe a tivesse proibido, de novo, de ir a um
baile. Em vez disso, ela estava preocupada comigo.
— Jessica, não estou brava com você de m odo algum .
— Ufa, que bom . — Ela deu um suspiro de alívio. — Eu estava realm ente
com m edo de que você ficasse irritada com igo.
Caram ba. Eu era tão perversa assim ? Tão horrível que um a das m inhas
m elhores am igas tinha m edo de dar sua opinião, porque eu poderia ficar com
raiva ou coisa do tipo? Nossa, isso fez eu m e sentir um horror de pessoa.
— Não é que eu não goste de Toby — continuou Jessica. — Eu gosto. Ele é
doce e legal com você, e sei que você precisa disso depois… depois do que houve
com m eu irm ão.
Meu coração pode realm ente ter parado de bater por um segundo. Fiquei ali,
estática, plantada no lugar, e depois de um a pausa atordoada olhei para Jessica.
— Com o você…? — consegui sussurrar.
— Jake m e contou — respondeu ela. — Eu estava conversando com ele
sobre m eus am igos, quando seu nom e surgiu e ele m e contou sobre o que
aconteceu há alguns anos. Ele se sente m uito m al por isso, agora, e quis que eu
m e desculpasse com você por ele, m as eu não queria falar disso. Sinto m uito,
Bianca. Deve ter sido bem difícil pra você ser m inha am iga depois do que Jake
fez.
— Não é culpa sua.
— Eu não acredito que você não disse nada. Isso deve ter passado pela sua
cabeça quando Jake veio nos visitar. Por que não m e contou?
— Não queria que você tivesse m enos consideração pelo seu irm ão —
respondi. — Sei que você gosta m uito dele e não quis estragar isso.
Jessica não disse nada. Ela deu um passo à frente e m e abraçou, puxando-
m e para j unto dela tanto quanto seria hum anam ente possível.
Foi um pouco desconfortável a princípio, especialm ente considerando o fato
de que os seios gigantes de Jessica estavam praticam ente m e sufocando, m as eu,
aos poucos, cedi ao seu abraço. Meus braços a puxaram pela cintura,
correspondendo ao gesto. Saber que eu tinha alguém que m e apoiava assim , sem
pedir nada em troca, fez com que eu m e sentisse a pessoa m ais sortuda do
m undo.
— Eu am o você, Bianca.
— Hã... o que foi isso?
Jessica m e soltou e se afastou.
— Eu am o você — disse ela. — Você e Casey. As duas. Vocês são as
m elhores am igas que eu poderia ter, e não sei onde estaria se vocês não tivessem
aparecido no prim eiro ano. Provavelm ente ainda estaria deixando aquelas
m eninas horríveis passar por cim a de m im . — Ela baixou os olhos. — Vocês duas
sem pre tentaram m e proteger, por exem plo, não m e contando que m eu irm ão é
um canalha. E eu quero fazer a m esm a coisa por você.
— Jessica, isso é m uito gentil da sua parte.
— Foi por isso que quis falar com você — explicou ela. — Sei que Toby é
legal e gosta de você, m as não acho que vocês com binem , entende? Estou feliz
por você passar um tem po com igo e com a Casey de novo e acho legal ele sair
conosco algum as vezes, m as eu m e im porto com a sua felicidade. Você pode
parecer feliz, m as não acho que estej a. — Jessica respirou fundo e puxou a
bainha de sua saia florida. — Eu não queria tocar nesse assunto… Ouvi alguns
boatos sobre Wesley nos últim os dias.
Mordi o lábio.
— Ah…
— Ele não tem dado em cim a de ninguém ultim am ente — continuou ela. —
Não vi Wesley com nenhum a garota e pensei… — ela m e encarou com aqueles
olhos cor de chocolate arregalados —, pensei que você pudesse querer saber
disso, quer dizer, sei que você sente algum a coisa por ele e…
Balancei a cabeça.
— Não — falei —, não é tão sim ples assim .
Jessica assentiu.
— Certo — disse ela. — Só achei que devia dizer a você o que eu penso.
Desculpa.
Suspirei, sorri e a peguei pela m ão, puxando-a para a sala de inglês.
— Tudo bem . Gostei de saber que você está preocupada com igo. Mesm o,
de verdade. E você pode estar certa… sobre m im e o Toby, enfim . Mas é apenas
o ensino m édio. Estam os só nam orando. Não estou procurando um m arido nem
nada assim . Não acho que você precise se preocupar com igo. Estou bem .
— Casey diz que você geralm ente está m entindo quando diz isso — disse
Jessica.
— Ela diz isso, é?
Soltei a m ão dela e entram os na sala de inglês. Eu estava determ inada a não
responder sua acusação. E na verdade foi m uito fácil. Eu consegui fingir
distração — bem , e nem era tão fingida assim — quando notei um pedaço de
papel dobrado em cim a da m inha carteira. Sentei e peguei o papel, pensando que
era de Casey. Quem m ais m e escreveria um bilhete?
Mas Casey sem pre desenhava um a carinha feliz sobre o i do m eu nom e, e a
letra do lado de fora do papel era pequena, cursiva e sem desenho.
Confusa, desdobrei o papel e li a única frase que estava escrita na parte de
cim a.
Wesley Rush não tenta conquistar garotas, m as eu estou tentando conquistar você.
capítulo 25
Houve um a época em que pensei que ser um a Duff significava que eu não teria
problem as com garotos. Obviam ente, eu estava errada. Com o isso aconteceu?
Com o eu, a garota feia, acabei no m eio de um triângulo am oroso? Eu não era
nada rom ântica. Nem m esm o queria nam orar. Mas lá estava eu, dividida entre
dois caras atraentes com quem , no m undo real, não teria sequer a m enor chance.
(Acredite em m im , não é tão encantador quanto parece.)
De um lado, Toby. Esperto, fofo, engraçado, educado, sensível e prático.
Toby era perfeito de to
das as m aneiras possíveis. Quer dizer, ele era m eio bobo,
m as era isso que o tornava tão adorável. Eu gostava de estar com ele, e ele
sem pre m e colocava em prim eiro lugar. Toby m e respeitava e parecia nunca
perder a paciência. Não havia nada para reclam ar a respeito de Toby Tucker. Do
outro lado, havia Wesley. Um idiota. Um im becil. Um garoto rico, arrogante e
galinha, que colocava o sexo antes de qualquer outra coisa. Claro, ele era
incrivelm ente gato, m as m e dava nos nervos de todas as form as possíveis.
Wesley era m uito, m uito charm oso, e seu sorrisinho cínico e fofo podia
realm ente m e tirar dos eixos. Ele tinha um j eito de fazer m eu coração acelerar e
m inha cabeça girar. Eu não tinha m edo de ser grossa ou cruel perto dele. E
odiava adm itir, m as Wesley m e entendia. Eu m e sentia eu m esm a quando estava
com ele, enquanto sem pre tentava esconder m inhas neuroses quando estava
perto de Toby.
Meu Deus, a vida era tão m ais fácil quando ninguém prestava atenção em
m im .
O bilhete de Wesley pesava m eia tonelada em m inha m ochila enquanto m e
dirigia ao estacionam ento dos alunos naquela tarde. Dizer que eu estava confusa
seria um eufem ism o gigantesco. Quero dizer, aquela única frase m e deixou com
um m ilhão de perguntas diferentes na cabeça, m as havia um a em particular:
Por que será que Wesley me quer?
Sério. O cara tinha dúzias de garotas que m orreriam para ficar com ele. Por
que eu? Não tinha sido ele a m e cham ar de Duff pela prim eira vez? Que droga
era aquela?
E, quando cheguei em casa, a coisa toda só piorou.
Por sugestão de Toby, eu tinha com eçado a ler O morro dos ventos uivantes
no m eu tem po livre. Honestam ente, os personagens principais m e irritavam tanto
que estava difícil avançar na leitura. Estava considerando deixá-lo de lado
naquele dia, m as um trecho de diálogo cham ou m inha atenção.
Meu amor por Linton é como a folhagem dos bosques. O tempo vai
mudá-lo, tenho plena certeza, como o inverno muda as árvores, meu
amor por Heathcliff se assemelha às rochas eternas do solo — uma fonte
de pouco deleite, visível mas necessária.
Pode parecer estúpido, m as aquelas poucas linhas realm ente entraram em
m inha cabeça com o um a m úsica que você odeia m as não consegue parar de
cantar. Tentei continuar a ler, porém as palavras flutuavam sem cessar em m eu